A histórica falta de investimentos em infraestrutura é o que mantém o grande gargalo para o transporte de cargas no país. Hoje, 65% dos bens transportados no território nacional usam o modal rodoviário, que ao longo dos anos recebeu uma fatia maior dos investimentos públicos, em comparação aos modais ferroviário, aéreo e aquaviário, limitando o crescimento das demais opções de transporte de carga. Os leilões programados pelo atual governo tentam minimizar essa situação.
“Precisamos investir bastante em infraestrutura, portos, ferrovias e rodovias, para escoar as nossas riquezas e, principalmente, para diminuir o custo Brasil”, declarou, ontem (19/03), Viviane Esse, secretária-executiva adjunta do Ministério da Infraestrutura, durante abertura oficial da 25ª edição da Intermodal South America, feira internacional de logística, transporte de cargas e comércio exterior, que acontece em São Paulo.
Entre os leilões programados para este ano, o de aeroportos foi o primeiro, realizado no último dia 15, para a concessão de 12 aeroportos, nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, por 30 anos. O valor arrecadado foi de R$ 2,37 bilhões e a expectativa é de investimentos de R$ 1,4 bilhão nos próximos cinco anos, em expansão e melhorias. A oferta foi feita em três blocos e dois deles foram arrematados por grupos estrangeiros.
Viviane disse que o resultado desse leilão mostrou que há interesse dos investidores estrangeiros no Brasil. “Eles têm interesse e recursos para investir, desde que tenhamos regras claras, segurança jurídica e marco regulatório”, assinalou. Ela afirmou que o investimento da inciativa privada em infraestrutura vai cobrir a ausência de recursos governamentais. “Infelizmente, neste ano temos menos investimentos previstos no Ministério da Infraestrutura do que tínhamos em 2014, mesmo sabendo que precisamos investir valor bem maior do que isso”, admitiu. “No modal aéreo, a intenção é que todos os aeroportos que estão sob administração da Infraero sejam transferidos para a iniciativa privada nos próximos três anos e meio. Isso vai fazer com que a gente tenha um aporte muito maior de investimento do que poderíamos fazer com recursos fiscais do Governo Federal”, disse.
Portos
O próximo leilão acontecerá nesta sexta-feira (22/03), para arrendamento de três terminais portuários para combustíveis, dois em Cabedelo (PB) e um em Vitória (ES). “Temos trabalhado há alguns anos, junto ao mercado, para que o modelo apresentado fosse um modelo que, obviamente, atendesse ao interesse público, mas que fosse atrativo para as empresas”, declarou Diogo Piloni e Silva, secretário Nacional de Portos e Transportes Aquaviários. Ele disse que há procura por parte de investidores estrangeiros e já teriam se manifestado um grupo chinês e um argentino. “O mercado de combustíveis é mais ou menos concentrado, então a entrada de novos players para nós é sensacional”, declarou o secretário.
Ferrovias
Paralelamente à Intermodal, acontece também no São Paulo Expo, até amanhã (21/03), a 21ª NT Expo-Negócios nos Trilhos, feira especializa no transporte metroferroviário de carga e passageiros. José Antonio Fernandes Martins, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre), destacou a importância de revitalizar o setor ferroviário que sofre com a falta de infraestrutura e recursos.
Atualmente, apenas cerca de 26% da carga transportada no país segue pelo modal ferroviário. Martins ressaltou que, no passado, o país chegou a ter 38 mil km de ferrovias, mas nos anos 1960 o governo adotou uma política que focou no desenvolvimento da indústria automobilística e a ferrovia foi esquecida. Hoje, segundo ele, o setor ferroviário útil não chega a 15 mil km no país.
Para tentar reverter esse cenário, o Simefre está formatando, para levar ao governo, o Retrem 2019, um programa de financiamento de equipamentos ferroviários, com recursos do Fundo de Garantia. Segundo Martins, o Retrem é semelhante à linha de crédito Refrota, que foi desenvolvida para o setor de ônibus.
“A ferrovia tem que ser revitalizada e estamos trabalhando também para ‘hidrovializar’ o país, buscando intensificar a navegação de cabotagem”, relatou o executivo. “No Rio Grande do Sul nós estamos trazendo chapa de aço de Vitória (ES), e da Usiminas, de barcaça, até Porto Alegre (RS), o que antes era feito de caminhão. É um absurdo um país que tem a maior rede hídrica de água doce não ter navegação de carga, comentou Martins. De acordo com ele, o transporte de carga via hidroviária atualmente não chega a 5% do total.
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