Pesquisas de 2018 e 2019 revelam que o paulistano passa, em média, 2h e 43 minutos indo de casa para o trabalho. São de 5h a 6h por dia apenas para chegar em algum lugar. Esse deslocamento demorado se deve, principalmente, ao movimento da periferia da cidade para o centro, sendo que 32% destes deslocamentos são feitos de trem, ônibus e metrô e consomem as maiores distâncias, de 5 km até 20 km.
Apesar destes números, São Paulo é a cidade com a melhor mobilidade urbana do país, de acordo com o ranking Connected Smart Cities, da consultoria Urban Systems. Além da capital paulista, saíram-se bem cidades como Florianópolis (SC), Curitiba (PR) e Brasília (DF).
Na cidade do Rio de Janeiro, o sistema de ônibus atravessa uma crise sem precedentes, com o sumiço dos ônibus em todas as regiões da cidade. A queda de 50% no número de passageiros, agravada pela pandemia de Covid-19 e a má qualidade do serviço, já levou três dos quatro consórcios que atuam com transporte de ônibus do Rio a entrar com pedido de recuperação judicial na justiça.
Com sistemas caóticos, falta de infraestrutura e de investimentos públicos inteligentes, a realidade é que nossas cidades ainda estão longe de serem as “cidades do futuro” inteligentes, eficientes e fluidas. Nosso dia a dia é vivenciado em territórios desiguais, espraiados, inacessíveis e com grande parcela da população sendo cada vez mais “empurrada” para a periferia, com baixa cobertura por transportes de média e alta capacidade, sistemas de ônibus lentos, poluentes e pouco confiáveis, sujeitos ao tráfego e engarrafamentos. Não é uma fotografia muito animadora.
Talvez o ponto de inflexão para transformar e construir o futuro da mobilidade urbana passe pela tecnologia. Especialmente pelo conceito da mobilidade como serviço (Maas).
O conceito-chave por trás do MaaS é colocar os usuários no centro dos serviços de transporte, oferecendo-lhes soluções de mobilidade sob medida com base em suas necessidades individuais. Isso significa que, pela primeira vez, o acesso fácil ao modo ou serviço de transporte mais adequado será incluído em um pacote de opções flexíveis de serviços de viagem para usuários finais.
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O que isso significa para os consumidores?
As cidades, em tese, pretendem se tornar ‘Smart Cities‘, fornecendo ferramentas inteligentes aos seus cidadãos e adicionando infraestrutura inteligente. O MaaS mudará a forma como os consumidores viajam e usam diferentes tipos de transporte. A mobilidade como serviço aborda o transporte de uma perspectiva centrada no usuário.
A suposição é que o MaaS reduzirá o número de carros particulares, à medida que as opções alternativas de transporte se tornarem mais integradas e fluidas.
Os usuários planejam, reservam e pagam todas as opções de transporte separadamente (transporte público, compartilhamento de carro, táxi, Uber etc.). Alguns prestadores de serviços de transporte permitem o pagamento através de cartões inteligentes, mas mesmo assim a maioria das viagens são tratadas separadamente e não incluem o uso de compartilhamento de carro, bicicletas urbanas ou Uber.
MaaS é uma mudança drástica de paradigma no espaço de transporte. Os usuários não precisarão mais se preocupar em recarregar cartões, comprar passagens, pagar tarifas individuais. De repente, ir de A a B torna-se uma experiência mais fluida e integrada. Será uma enorme economia de tempo e esperamos economizar dinheiro também.
Opção ‘Plano’: Os usuários pagam um plano mensal adequado às suas necessidades de transporte. Por exemplo, os planos podem ser divididos em urbano, família, negócios e casual. Eles incluem todas as opções de transporte público, bem como táxi, carro alugado, compartilhamento de carros, etc., para atender às necessidades individuais de todos.
Opção ‘Pagamento sob demanda’: Os usuários pagam à medida que viajam com a diferença de que pagam toda a viagem de uma só vez, independentemente do meio de transporte. Então, se você precisar pegar o trem, ônibus e depois um táxi em uma viagem, é tudo um pagamento, feito automaticamente através do seu smartphone.
Seria como os diferentes planos oferecidos pelas operadoras de telefonia móvel. Alguns usuários precisam de muitos dados. Alguns não, mas precisam de muitas chamadas. Outros não querem um contrato, mas pagam conforme o uso. É por isso que os provedores de serviços móveis oferecem uma variedade de planos e opções casuais.
Como isso mudará o cenário do transporte urbano?
As operadoras têm uma grande curva de aprendizado pela frente. Elas não existirão mais em suas bolhas separadas em ‘trem’ ou ‘ônibus’ ou ‘táxi’, se comportando como concorrentes e, muitas vezes tentando impedir a operação do “rival”. Ao contrário, devem se transformar em provedores de serviços de transporte, independente do modal. Eles negociarão preços com operadoras de MaaS, que empacotarão serviços e oferecerão planos e opções de pagamento para os consumidores.
Os governos mudarão a legislação para acomodar esse novo desenvolvimento e garantir que as empresas cumpram certos padrões e requisitos que beneficiem a todos.
Exemplos europeus mostram que este cenário é possível. Exemplos históricos nacionais mostram que este futuro da mobilidade urbana está muito distante e difícil, mas que inexoravelmente, chegará. Alguns gostando ou não.