Quando se fala sobre tecnologias de transportes, a história recente está repleta de previsões falhas e sonhos não realizados. Na virada do século XIX para o século XX, quando as carruagens puxadas por cavalos e os comboios a vapor dominavam, surgiram inúmeros conceitos que foram aclamados como o futuro do transporte público.
As frotas de táxis elétricos, que rodavam em Londres ou Nova Iorque, por exemplo, simplesmente desapareceram com o desenvolvimento dos motores a combustão. O Monotrilho Brennan, um trem monotrilho movido a diesel, estabilizado giroscopicamente, nunca passou da pista de testes. Foi superado por tecnologias mais simples, como ônibus e caminhões. Em meados do século passado, os “papa-filas”, avô dos BRT, um monstrengo puxado por caminhões FNM, também ficaram pelo caminho.
Avançando até ao presente, encontramos o discurso da era de disrupção tecnológica dos transportes. Táxis voadores, trens hyperloop, rodovias a hidrogênio e veículos autônomos tornaram-se palavras da moda na indústria. No entanto, as formas tradicionais de transporte público enfrentam desafios como cortes de financiamento, conflitos laborais e mudanças tecnológicas.
Isto levanta a questão: estaremos à beira de uma revolução tão necessária no transporte de massa, impulsionada por veículos limpos e sem condutor? Ou será que esses grandes projetos acabarão sendo meras versões modernas do papa-filas?
Um dos principais impulsionadores das estratégias de transporte público hoje é o compromisso de reduzir as emissões e limitar o aquecimento global. O cumprimento destas metas exige a duplicação da utilização dos transportes públicos nas cidades até 2030. Além disso, um bom transporte público traz vários outros benefícios, incluindo a melhoria da qualidade do ar, a promoção da inclusão social, a promoção do desenvolvimento econômico regional e o aumento da participação da mão-de-obra.
O fato é que o sistema de transporte público, de forma geral, vem gradativamente perdendo passageiros, tendo seu pico alcançado durante a pandemia da Covid. Apesar de recuperar passageiros no período pós pandemia, ainda está aquém de suas marcas históricas.
A cidade de São Paulo planeja inserir mais de 600 ônibus elétricos no sistema e outras grandes metrópoles brasileiras começam a caminhar nesta direção. As perguntas que ficam são: eletrificar a frota melhora o sistema? Veículos descarbonizados, amigáveis ao meio ambiente, “carregando” centenas de pessoas por quase um dólar por cabeça melhora o sistema?
A questão permanece: serão iniciativas como estas suficientes para revitalizar e transformar o transporte público, ou serão insuficientes como os papa-filas?