A Mercedes-Benz tem trilhado o caminho de deixar a zona de conforto de fabricar apenas veículos pesados de linha e tem desenvolvido mudanças customizadas em seus produtos, de acordo com as necessidades de seus clientes, principalmente quando se trata de grandes frotistas.
Nessa toada, a montadora desenvolveu a versão do Axor 2644 com tração 8×4 para atender à demanda da transportadora de valores Prosegur. O cliente incorporou sete unidades Axor 2644 8×4 blindados à sua frota de cerca 1.700 veículos. Aproximadamente 96% da frota é composta de veículos Mercedes-Benz, sendo a maioria carros-fortes, além de caminhões e 31 cavalos mecânicos.
Para transportar mercadorias de alto valor agregado, o modelo ganhou configuração especial e com a versão cavalo mecânico 8×4, com bitrenzão, passou a ter 175 metros cúbicos de capacidade de carga. Isso significa que ele pode tracionar semirreboques como o bitrenzão (composição de dez eixos), assegurando uma capacidade de carga de 175 metros cúbicos – 100 no primeiro semirreboque e 75 no segundo –, com até 74 toneladas de PBTC (peso bruto total de carga).
A inclusão de um 2º eixo direcional modificou esse cavalo mecânico, que sai de fábrica com tração 6×4, para uma versão 8×4. A cabine blindada foi configurada com quatro posições de assentos, incluindo o banco do motorista, para acomodar toda a equipe de trabalho de acordo com as exigências da legislação do setor de transporte de valores.
Os semirreboques do bitrenzão podem ser blindados ou reforçados, de acordo com a opção do cliente. Os implementos dos caminhões da Prosegur foram feitos por empresas especializadas no mercado.
Segundo Rubens Carbonari, diretor regional da Prosegur, o aumento da demanda, principalmente no segmento de eletrônicos, como celulares, foi o que motivou a empresa a ampliar a frota e a adquirir esses veículos maiores. A companhia está investindo mais de R$ 5 milhões na aquisição de novos veículos e no desenvolvimento de soluções para o transporte de mercadorias com alto valor agregado para atender ao aumento de demanda de seus clientes por esse tipo de transporte.
A Prosegur começou a operar com cargas valiosas em 2011 e hoje elas representam em torno de 2% do total movimentado pela empresa. Carbonari afirma que a companhia tem desenvolvido soluções eficientes para aumentar a segurança no transporte de cargas especiais de seus clientes. “Desde 2011 já foram realizadas 6.777 operações com o sistema da Prosegur em todo o país, com sinistralidade zero em mais de R$ 10 bilhões em cargas transportadas”, diz.
Esses caminhões de maior capacidade operam na interligação entre as fábricas e os centros de distribuição, e entre pontos de retirada e entrega, como aeroportos, transportando cargas de valor como eletroeletrônicos, celulares, medicamentos, joias, relógios, ingressos paras espetáculos, papel moeda e barras de ouro.
Segundo Carbonari, a empresa opera 1.650 blindados no transporte de valores convencional e 27 caminhões no carregamento de cargas valiosas. Com a expansão da frota, ele espera dobrar a participação desse segmento no faturamento da companhia. A previsão é chegar a 35 veículos carregando cargas valiosas até o final de 2018. A maior demanda nesse segmento encontra-se na região Sudeste (80%), com origem concentrada no estado de São Paulo e destino aos demais estados da região.
Lote de 134 caminhões
Além deste modelo, a Prosegur adquiriu um lote de 134 caminhões 915 E, cuja entrega será finalizada até o final de julho. Neste caso também a Mercedes-Benz customizou o veículo a partir de um chassi de ônibus, com modificação na posição de componentes, como o tanque de combustível e os tanques de ar; acerto dos cardans e flange do câmbio; adequação dos chicotes elétricos; e redução de entre-eixos, de 4.500 para 3.150 mm.
Segundo Marcos Andrade, gerente de produto caminhão blindado da Mercedes-Benz, foram feitas 11 modificações no chassi 915 E. O chassi foi totalmente customizado para as necessidades de um carro-forte, com blindagem 100% nível três para elevar o grau de segurança tanto dos ocupantes quanto dos itens transportados. O desenvolvimento do 915 E para a Prosegur foi feito pelo Centro de Customização para Clientes (CTT), um setor criado pela Mercedes para atender a pedidos especiais de seus clientes.
Uma das vantagens desse trabalho desenvolvido pela montadora é deixar o chassi mais pronto para receber o implemento, o que reduz o tempo para a entrega final do caminhão ao cliente. Além disso, como as modificações no chassi são feitas na própria fábrica da Mercedes, as peças retiradas ou substituídas podem ser reaproveitadas, evitando o desperdício.
Com os 134 novos carros-fortes, a Prosegur adquiriu também o plano completo de manutenção da Mercedes e ativou em cada veículo o sistema de gestão de frota da montadora, chamado de FleetBoard. “Além de aprimorar a nossa gestão de frota e reduzir os custos operacionais das operações, o Fleetboard nos possibilitou escolher o veículo mais adequado para cada tipo de operação, seja para trechos urbanos, rodoviários ou até mesmo fora de estrada”, comenta Rubens Carbonari.
Os carros-fortes da Prosegur possuem outras soluções que incrementam a segurança. Uma delas é o Sistema de Injeção de Poliuretano Expandido (SIPE), que evita o arrombamento do cofre interno do carro-forte, mesmo quando submetido a uma grande explosão. Ao ser acionado, o equipamento libera um jato de poliuretano e, em no máximo 22 segundos, a parte interna do cofre fica completamente preenchida pelo polímero endurecido, garantindo a segurança do conteúdo.
Outra solução é o cofre multitranca, que é dividido em pequenos espaços e permite o controle individual de valores. Diferentemente dos cofres convencionais, que possuem uma abertura única, a divisão deste cofre em pequenas gavetas reforçadas permite a movimentação de valores por cliente, elevando a segurança.
Mercado
Segundo Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas, marketing, peças e serviços caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, a montadora detém atualmente cerca de 65% de participação nesse nicho de veículos blindados em circulação.
No ano passado, foram comercializados 242 caminhões blindados no mercado nacional e este ano, até junho, já foram emplacados 239 blindados, o que sinaliza um resultado melhor para 2017. A frota circulante desse segmento gira em torno de 6.500 unidades, com grande potencial de renovação porque tem idade média de dez anos. Na frota da Prosegur a idade média é de 13 anos.
Leoncini acredita que os empresários ainda estão segurando investimentos em renovação, mas aposta em um segundo semestre melhor para as vendas de caminhões.
“O mercado está 17% menor que o ano passado, mas dois meses atrás estava 30% menor. Ainda é ruim, mas a diferença vem diminuindo. A tendência é que este ano seja parecido com o ano passado. Apesar de haver um crescimento na economia, apesar da inflação estar sob controle, o transportador ainda não toma decisão de compra”, analisa Leoncini.
Em sua opinião, os produtos de nicho ainda representam pouco volume nas vendas totais, cerca de 300 caminhões por ano, mas refletem a mentalidade disseminada hoje dentro da Mercedes-Benz. “Uma coisa é entregar a lâmpada que está na prateleira e outra coisa é ir lá olhar o que o cliente precisa para iluminar a vida dele. É essa mentalidade que queremos desenvolver aqui, com consistência”, defende o executivo.
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