O ano de 2021 deverá marcar o início da entrada em escala dos veículos elétricos do Grupo Daimler na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. A empresa já vem há alguns anos se preparando para atender a essa demanda, tanto com o desenvolvimento de veículos elétricos quanto do lado da oferta de serviços para esse segmento.
Este ano, colocou no mercado europeu uma frota piloto com dez caminhões elétricos pesados eActros para serem testados em dez transportadores com operações diversificadas, de alimentos e materiais de construção até matérias-primas, e no próximo ano iniciará os testes com mais dez veículos elétricos em outros dez clientes de diferentes ramos de atividade. Além disso, planeja a venda em maior escala, já a partir de 2019, do comercial leve FUSO eCanter. “Esperamos vender em torno de 500 unidades no ano que vem”, prevê Marcos Andrade, gerente de produto caminhão da Mercedes-Benz do Brasil.
Para o mercado brasileiro, a Mercedes-Benz faz questão de divulgar que está se preparando para a introdução de caminhões e ônibus elétricos e autônomos, atrelados a soluções de tecnologia, conectividade e serviços, mas ainda não há previsão de operação comercial real no país. “Quando os clientes pedirem e o mercado estiver suficientemente maduro para operar com caminhões e ônibus elétricos e autônomos, nós estaremos prontos para atender a todas as demandas, com produtos e serviços que assegurem eficiência, produtividade, custo operacional adequado e a rentabilidade desejada”, afirma Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas, marketing, peças e serviços para caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil. Para a empresa, o desafio não é construir o veículo elétrico, mas, sim, operá-lo de forma eficiente para tornar esse produto viável “do ponto de vista técnico, econômico e ambiental, com a qualidade e a confiabilidade próprias da marca.”
Leoncini diz que a montadora está de olho nesse segmento do mercado brasileiro e que tem conversado com clientes sobre o uso do veículo elétrico. “Temos uma equipe em Stuttgart só pensando nisso. De realidade, hoje, temos os elétricos eCanter e o eActros e estamos pensando em algo para o Brasil, para quando chegar a hora adequada, ainda não é agora”, pondera o executivo.
Ele comenta que considera importante o passo que a Cervejaria Ambev deu ao anunciar, esta semana, que até 2023 terá em sua frota 1.600 caminhões elétricos para o transporte de bebidas, com 35% da frota movida a energia limpa (os veículos foram encomendados à Volkswagen Caminhões e Ônibus). “Acho que esse passo vai acelerar a coisa para todo mundo porque é preciso ter uma discussão sobre a infraestrutura de carregamento (das baterias), sobre o pós-venda, e vai ser bom alguém puxar essa discussão, vamos nos beneficiar dessa inciativa. Ainda não vejo a conta fechar quando se trata da viabilidade econômica por causa do custo das baterias e do veículo em si, ainda acho difícil empatar zero a zero com o diesel, mas há o fator ambiental que para alguns pode ser um fator determinante”, assinala Leoncini.
Além da infraestrutura e do custo, muitas lacunas ainda têm que ser preenchidas nesse universo da eletromotricidade, como a autonomia adequada para cada operação, a recarga e o ciclo de vida das baterias. No caminho para encontrar soluções, a Daimler criou a Deutsche Accumotive, fabricante de baterias de íons de lítio para os veículos elétricos do grupo, e tem investido em empresas de gestão de baterias, como a Mercedes-Benz Energy, que trabalha para encontrar as melhores opções do que fazer com a segunda vida das baterias – como a aplicação em uso residencial, por exemplo – ou como destruí-las de forma ambientalmente correta.
Outra questão a ser equacionada é o valor de revenda do veículo elétrico. “Nossa ideia é oferecer um serviço de recompra, justamente para os clientes se sentirem confortáveis, porque ninguém quer que seu caminhão não tenha valor de mercado daqui a cinco anos. Por isso é importante a experiência que estamos tendo com essa frota piloto”, destaca Andrade. “Do projeto até a produção em larga escala os veículos passarão por diversas etapas até atingir maturidade e confiabilidade”, afirma.
Estratégia rumo aos veículos elétricos e autônomos
A Grupo Daimler tem apostado suas fichas em quatro tendências para responder a futuras demandas da indústria automotiva: a propulsão elétrica, os veículos autônomos, o compartilhamento de veículos e serviços e a conectividade. O maior desafio para a empresa é conectar todos esses pontos de forma inteligente. Essa estratégia global de atuação ganhou a denominação CASE (Connected, Autonomous, Sahred & Services, Electric).
Entre as ações voltadas a essas tendências, a Daimler Trucks criou uma área específica para desenvolver sistemas de propulsão elétrica. A E-Mobility Group é uma organização independente que cuida da questão da eletromobilidade no segmento de veículos comerciais.
Segundo Marcos Andrade, a Daimler Trucks foca, inicialmente, em caminhões leves para aplicações urbanas em curtas distâncias, de até 240 quilômetros por dia, que permitam o carregamento noturno das baterias. O perfil da operação deve também se encaixar em entrega e coleta nos centros urbanos de cargas que tenham perfil de alto volume e baixo peso porque as baterias dos veículos já tomam boa parte do peso bruto.
A incursão do Grupo Daimler no mundo dos veículos elétricos começou já há alguns anos. Em 2010, criou o primeiro protótipo do FUSO eCanter e hoje já tem em seu portfólio oito modelos de caminhões e ônibus com propulsão elétrica. (ver tabela nesta matéria). No Brasil, desde 2013 tem experiência com um ônibus elétrico E-Bus, montado sobre chassi O 500 UA, em parceria com a Eletra.
No caso de transporte de pessoas, a empresa acredita que os ônibus elétricos são indicados para circular em grandes centros urbanos, com alta densidade populacional. O perfil de frenagens e acelerações constantes desse tipo de operação favorece o uso dos elétricos por baterias, com redução de emissões de gases e ruídos nos centros das cidades. Durante o IAA 2018 – Salão de Veículos Comerciais de Hannover, que será realizado em setembro, na Alemanha, a Daimler Buses apresentará seu ônibus urbano totalmente elétrico, o eCitaro.
Histórico
FUSO – Em setembro de 2010, foi apresentado o primeiro protótipo do caminhão leve FUSO eCanter. Entre 2014 e 2017, a empresa realizou diversos testes em frotas de clientes na Europa e no Japão. Em julho de 2017, teve início a produção do FUSO eCanter, que chegou ao mercado dois meses depois. Em outubro de 2017, foi lançada a nova marca E-FUSO e o caminhão pesado Vision One.
ACTROS – Em julho de 2016, foi lançado o conceito tecnológico do eActros, primeiro pesado elétrico da Mercedes-Benz para distribuição. Dois meses depois, foi apresentado o protótipo deste veículo. A partir do terceiro trimestre de 2018, uma frota de eActros iniciou operação em clientes selecionados na Alemanha e na Suíça, com os quais espera-se conhecer profundamente o comportamento dos veículos sob condições reais de uso.
FREIGHTLINER – Em junho de 2018, foram apresentados, nos Estados Unidos, o caminhão pesado elétrico Freightliner eCascadia e o médio Freightliner eM2.
THOMAS BUILT – Em novembro de 2017, a Daimler fez a apresentação mundial do ônibus escolar Thomas Built Jouley, produzido nos Estados Unidos. Está prevista uma frota de testes em clientes para este ano e uma pequena série em 2019.
CITARO – Em março deste ano, a Mercedes-Benz apresentou o conceito do eCitaro, ônibus urbano totalmente elétrico, cujas primeiras encomendas já foram confirmadas para a cidade de Hamburgo, na Alemanha.
SPRINTER e VITO – No Salão IAA deste ano, as versões elétricas da Sprinter e do Vito serão destaques no estande da Mercedes-Benz. O eVito estará disponível para clientes ainda este ano e a eSprinter, em 2019.
Faça um comentário Cancelar resposta