De uma forma geral, medimos os avanços da mobilidade elétrica na América Latina pelo número de carros elétricos vendidos. Porém, a transição para a eletromobilidade na região – que tem um PIB per capita insuficiente para adquirir veículos com esta tecnologia –, não está baseada no uso em massa de veículos particulares, mas sim no transporte público.
A eletrificação do setor se torna essencial para a democratização da mobilidade elétrica, bem como para a transição para a descarbonização dos países latino-americanos e a redução da dependência de combustíveis fósseis. Além disso, tem um impacto importante na saúde das pessoas, melhorando sua qualidade de vida. O transporte público também é relevante, pois permite maior inovação em digitalização e big data.
Este foi o reflexo do painel “Des-TESLA-lizar” mobilidade elétrica: transporte público e digitalização, a chave para a mobilidade com emissão zero na América Latina e no Caribe”, realizado em 10 de Maio no âmbito da Semana dos Transportes e Alterações Climáticas #TransportWeek22, em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), através da plataforma MOVE.
A plataforma MOVE (Movilidad Elétrica) é um programa da ONU para o meio ambiente que visa a transição para a mobilidade elétrica para América Latina e Caribe e tem como objetivo atualizar governos, municípios, setor privado e centros de tecnologia com notícias técnicas, soluções de políticas, financiamento e gestão para acelerar a transição para a mobilidade elétrica na região.
De acordo com a plataforma, o transporte é o setor com maior crescimento de emissões de CO₂ na América Latina e podem aumentar significativamente a menos que se acelere a transformação tecnológica. Ainda segundo a MOVE, as emissões vinculadas ao transporte são as principais causas de contaminação do ar e danos à saúde nas cidades da região.
A América Latina está avançando na criação de estratégias e estudos nacionais para redes e rotas de transporte público, que permitiram acelerar a transição para a eletromobilidade no setor, segundo Carlos Mir, especialista em mobilidade elétrica do PNUMA. De fato, as capitais Bogotá (1.580 ônibus elétricos em circulação) e Santiago (973) têm, depois da China, as maiores frotas de ônibus elétricos do mundo. Essas conquistas se devem ao fortalecimento do ecossistema de mobilidade elétrica, que reúne diversos atores. Entre elas está a plataforma MOVE, que oferece suporte técnico, cria e promove conhecimento e iniciativas regionais e internacionais.
Durante o painel, o Chile foi citado como um país que tem adotado uma estratégia nacional de eletromobilidade acordada pelos diferentes atores que compõem o ecossistema. Segundo Cristina Victoriano, responsável pela área de Transportes da Agência de Sustentabilidade Energética do Chile, o transporte público de massa foi priorizado, pois os benefícios atingem mais pessoas, por isso o plano visa acelerar a mobilidade elétrica nas regiões chilenas. A estratégia também aponta para uma abordagem de equidade de gênero. “Se não incorporarmos a equidade de gênero, levaremos mais 100 anos para alcançar as mudanças. 60% dos ônibus são usados por mulheres. Precisamos de mais motoristas, mais segurança”, disse Victoriano.
No Brasil estão rodando 351 ônibus elétricos, sendo que deste total, 302 são trólebus e apenas 49 ônibus utilizam a nova tecnologia. Os números representam 1,85% do total de ônibus que circulam pelo país.