Apesar de todos os obstáculos para a eletrificação do transporte público, a América Latina está bem posicionada e já possui a uma frota expressiva de ônibus elétricos, com mais de 4 mil unidades (entre ônibus a bateria e trólebus), ficando atrás apenas da China e empatada com a Europa.
O grande potencial do ônibus elétrico na América Latina é que, ao contrário da China e Europa, a maior parte da eletricidade da região vem de energia renovável e o setor de transporte é movido quase que na sua totalidade (mais de 95%) pelo petróleo e derivados. O espaço para a descarbonização é imenso.
O transporte na América Latina é responsável pela maior parcela das emissões regionais, respondendo por 15% das emissões de GEE locais e 8% das emissões globais em 2019.
A região conta uma população altamente urbana, com 80% dos residentes vivendo em cidades – um número que está crescendo. Esses dados demográficos colocam a América Latina com o maior uso global de transporte público per capita.
Os dados do sistema global de BRT mostram que os sistemas da América Latina transportam, em média, 600% mais passageiros por dia do que os sistemas europeus e quase o dobro dos sistemas asiáticos.
A região também tem um histórico de adoção da inovação no trânsito (O Brasil é considerado o “pai” dos sistemas BRT, que nasceu em Curitiba). Um relatório apontou para a adoção precoce de bondes elétricos, teleféricos para atender assentamentos densos e de difícil acesso, táxis movidos a etanol e outras novas tecnologias de transporte. A região tem autoridades de trânsito relativamente sofisticadas e alguns dos melhores sistemas de trânsito do mundo em desenvolvimento, sugerindo que os dados coletados das redes existentes podem apoiar a implantação eficiente de novos ônibus elétricos.
A América Latina – principalmente o Brasil e o México – abriga plantas fabris de potências na fabricação de ônibus e o Chile e a Argentina possuem grandes reservas de lítio. A região tem as habilidades e os recursos para desenvolver a capacidade de produção na fabricação de ônibus elétricos e fabricação de baterias, o que pode criar empregos verdes, apoiar o desenvolvimento tecnológico e fortalecer as cadeias de valor regionais.
Políticas para promover mudanças
Para estimular o ônibus elétrico na América Latina como indutor da transição energética, os governos locais e nacionais precisam desenvolver e implementar políticas transversais que incentivem essa tecnologia e permitam que ela prospere.
Primeiro, os governos devem codificar metas de mudança para frotas de ônibus 100% de emissão zero, seguindo os exemplos do Chile e da Colômbia. Essas metas devem incluir datas-alvo claras e ambiciosas para a compra e operação de ônibus elétricos e para melhorias de infraestrutura necessárias para apoiar essa transição.
A América Latina é uma das regiões do planeta que mais se utiliza de energia renovável para geração de eletricidade e a eletrificação do setor de transporte seria um passo natural para a transição energética. Em uma região conhecida pelo uso extensivo de ônibus, a mudança para os ônibus elétricos no transporte público trará uma descarbonização significativa.
Embora o custo e o financiamento apresentem desafios, políticas direcionadas, financiamento público-privado e incentivos financeiros podem tornar a América Latina líder em eletrificação de transporte público, reduzir o uso de combustíveis fósseis e apresentar oportunidades para o desenvolvimento econômico sustentável.
Exemplos da transição
A parcela significativa de emissões e poluição gerada pelo transporte é uma forte motivação para os governos federais e municipais da América Latina investirem pesadamente em ônibus elétricos. A Colômbia e o Chile se comprometeram a fazer com que 100% das compras de veículos do sistema de transporte público sejam zero emissões até 2035. As capitais desses países estão emergindo como líderes na corrida para eletrificar os ônibus urbanos.
Bogotá tem uma frota de quase 1.500 ônibus elétricos, a maior fora da China, representando mais de 16% de toda a frota de ônibus públicos da cidade. Santiago tem a segunda maior frota de ônibus elétricos da região e a cidade de São Paulo tem o potencial de se tornar a cidade latino-americana com a maior frota de ônibus elétricos, desbancando Bogotá.
Uma análise de 2019 aponta para um cenário de que, até 2025, mais de cinco mil elétricos poderão ser entregues anualmente em cidades latino-americanas .