Hoje, estima-se que existam cerca de 1,5 mil milhões de automóveis em todo o mundo e que são responsáveis por, no mínimo, metade das emissões globais de carbono. Enquanto os ambientalistas esperam uma proibição de veículos, principalmente em grandes centros urbanos, os engenheiros correm para desenvolver um veículo melhor.
Em meio a tudo isso, o hidrogênio, em tese, pode ser a resposta que acalmaria os ânimos ecológicos ao mesmo tempo que pode coroar os esforços de quem busca uma tecnologia amigável ao meio ambiente.
Os defensores do hidrogênio argumentam que é um sistema verdadeiramente verde, onde o único requisito real é a logística para os tanques comprimidos de hidrogênio.
Os veículos elétricos (VEs) tradicionais são apresentados como a solução para as emissões de carbono e seus defensores omitem que as suas baterias são difíceis de produzir e certamente sua cadeia produtiva não é verde. Outro senão e que a eletricidade utilizada para seu carregamento muitas vezes provém de usinas movidas a carvão, tornando os veículos elétricos sofisticados motores a vapor, se considerarmos toda a cadeia.
Começamos a receber corrente elétrica como resultado da produção de água. O hidrogênio entra de um lado, o oxigênio do outro, e eles se transformam em água por dentro. À medida que se combinam a partir de dois elementos separados, eles liberam um elétron, que se transforma em eletricidade.
Portanto, desde que tenhamos um abastecimento de hidrogênio – que pode ser produzido a partir de água e de qualquer fonte elétrica – solar, eólica ou nuclear – podemos gerar energia – e a única emissão é a água. Além disso, é energeticamente eficiente.
Um motor de combustão interna opera com apenas 25% de eficiência e uma célula de combustível tem cerca de 52% de eficiência – o que é uma grande mudança. Na combustão perde-se muita energia em calor, vibrações externas e movimento mecânico. Já na célula de combustível o processo é silencioso, sem vibração, em baixa temperatura – ganha-se muito com esse processo eletroquímico silencioso.
Então, se a tecnologia é tão perfeita, porque é que os carros a hidrogênio e a energia a hidrogênio ainda não dominaram o mundo? A questão é uma combinação de logística, custos e percepção.
O petróleo e o gás estarão conosco pelo menos até 2060, sem dúvida. Teríamos, deste modo, quatro décadas para construir novas infraestruturas, mas é preciso que seja inteligente porque neste momento temos infraestruturas centralizadas e milhões de quilômetros de tubulações.
Ao nos locomovermos pelas ruas, passamos por quantos postos de gasolina? E quantas estações de hidrogênio? Para construir uma infraestrutura desta magnitude é muito mais fácil de falar do que fazer.
Mas, e se não precisasse?
E se fosse possível ter uma estação de carregamento autônoma, movida a hidrogênio e que fosse compatível com qualquer veículo elétrico?
Essa é uma proposta da GenCell Energy, uma empresa que desenvolve soluções de células de combustível que oferecem energia limpa. A empresa, que contribuiu para os programas espaciais russos e estadunidense, desenvolveu uma estação para carregamento de veículos elétricos independente da rede, baseado em hidrogênio e amônia com emissão zero.
“Você pode levar esse abrigo aqui com as baterias dentro, com os conversores e os inversores, levá-lo para o meio do nada e ainda ter uma carga de alta velocidade para um EV”, disse Gil Shavit, fundador da GenCell.
“Nesta fase, é mais caro que o petróleo e o gás. E este é o principal obstáculo para a adoção desta tecnologia, mas no longo prazo ela será mais competitiva que o petróleo. A meta é que em dez anos um quilograma de hidrogênio valha um dólar. No momento em que chegarmos lá, o hidrogênio estará em todas as esquinas”, disse Rami Reshef, co-fundador da GenCell.
Outra inovação da GenCell foi reduzir o custo das próprias células de combustível. A tecnologia foi originalmente projetada para o ônibus espacial e usa muita platina – US$ 14 mil o quilo. A empresa encontrou uma maneira de obter os mesmos resultados com o Níquel – apenas US$ 9 o quilo.
Mas, embora ainda existam carros a hidrogênio, por exemplo, o Toyota Mirai e o Hyundai Nexo, nenhum deles foi um enorme sucesso de mercado. No entanto, o resultado final é que o hidrogênio é mais seguro do que o gás de cozinha que usamos em casa todos os dias. São 20 milhões de toneladas produzidas todos os anos – há regulamentação de segurança e infraestrutura
Os dados da OCDE confirmam isso, mas até que o hidrogênio seja uma parte regular da vida das pessoas, é pouco provável que a percepção pública mude. No entanto, infraestruturas autônomas, como estações de carregamento movidas a hidrogênio, já foram implementadas em centrais elétricas e hospitais em todo o mundo.
Talvez seja só uma questão de tempo para que possamos ver tantas estações de carregamento movidas a hidrogênio quanto postos de gasolina.