Levar uma bicicleta compartilhada para o trabalho ou escola pode aumentar o acesso a oportunidades econômicas – mas e se você não tiver um smartphone, cartão de crédito ou dinheiro suficiente para pedalar? Ou se não houver veículos no seu bairro?
A cidade do futuro exigirá que seus cidadãos dirijam menos e formas alternativas de transporte, como bicicletas e compartilhamento têm sido apontadas como uma possível solução, não só para a mobilidade como também para o clima. No entanto, esses modos de transporte nem sempre são acessíveis a todos, seja por causa do custo, do acesso ou até mesmo da sensação de que esse modo específico não é “para eles”.
As cidades deveriam pensar holisticamente e criar planos de mobilidade que contemplem outros modais além do feijão com arroz – ônibus, trem e metrô. As cidades podem promover o acesso e criar mecanismos que exijam componentes de equidade como parte de seus programas.
Bicicletas, por exemplo, se instalam em áreas mais densas e lucrativas da cidade – muitas vezes no centro – deixando para trás os bairros menos ricos. Faz todo o sentido, já que foram pensadas e implantadas como negócio particular e não fazem parte do plano. Mas deveriam fazer para tornar a micromobilidade acessível a um maior número de pessoas.
Especialistas do setor afirmam que o futuro da micromobilidade compartilhada será uma parceria público-privada onde as cidades assumem o ônus de administrar uma rede de transporte. À medida que a micromobilidade comece a fazer parte do sistema, devemos esperar que o poder público se preocupe com os requisitos de equidade para torná-lo verdadeiramente público e equitativo.
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Cidades como São Paulo, por exemplo, têm um requisito de equidade geográfica e exige que as empresas de ônibus coloquem veículos em determinados bairros.
Ao incorporar a micromobilidade no seu plano de deslocamento, tal exigência poderia ser estendida às operadoras de compartilhamento de bicicletas.
Com o uso cada vez mais massivo de aplicativos de mobilidade, a integração das bicicletas também seria um facilitador para o cidadão-usuário, que teria a bicicleta incorporada ao sistema de roteiros de viagens e meios de pagamento de seus deslocamentos, tornando a micromobilidade acessível para uma parcela maior da população.
Iniciativas como a Estação Bike, patrocinado pela Tembici, deveriam se estender por mais pontos da cidade e poderia servir de modelo para outros municípios, porém com uma maior participação do poder público no processo de construção da micromobilidade.
Exemplos ao redor do mundo sugerem que as cidades devem assumir um papel maior de conectar empresas privadas com a comunidade. Além de ser mais fácil para elas manter relacionamentos com organizações locais, se a empresa privada deixar a operação, ela terá mecanismos à mão para não permitir que a comunidade passe apuros.
De qualquer forma, as bicicletas podem se tornar ferramentas estratégicas na construção de uma vida mais humana, sustentável e ainda serem indutoras de uma cidade para todos, permitindo uma maior inclusão social que possibilite acesso aos benefícios que uma cidade tem a oferecer.