25 de novembro de 2024

América Latina é a bola da vez para as montadoras chinesas

AMÉRICA LATINA – As montadoras chinesas de veículos elétricos estão avançando cada vez mais na América Latina e Caribe, investindo fortemente em um mercado crescente de 665 milhões de pessoas.

Brasil, Chile e Argentina são os últimos locais onde as empresas chinesas de veículos elétricos estão injetando bilhões de yuans para explorar os mercados automotivos da região.

Aqui no Brasil, o governo da Bahia anunciou recentemente a construção de um complexo de veículos elétricos do fabricante chinês BYD, que custará US$ 622 milhões e criará mais de 5.000 empregos.

A fábrica será construída no local deixado pela Ford no município industrial de Camaçari, próximo ao porto de Aratu.

O complexo será composto por três fábricas. Uma para ônibus elétricos e chassis de caminhões, outra para fabricar carros híbridos e elétricos com capacidade anual inicial de 150 mil unidades e uma terceira instalação para processar fosfato de lítio e ferro e exportá-los para o mercado global.

montadoras chinesas na América Latina

“Essas novas fábricas na Bahia trarão inovação e os mais altos padrões de tecnologia. Isso permitirá a introdução e aceleração da eletromobilidade no país, um movimento fundamental para combater as mudanças climáticas e realmente melhorar a qualidade de vida das pessoas”, afirmou a vice-presidente executiva da BYD e CEO da BYD Américas Stella Li.

A BYD também quer investir em outros setores, como energia eólica, transporte e mobilidade urbana, não apenas no Brasil, mas também nos vizinhos Argentina e Chile.

No Chile, a BYD anunciou um investimento de US$ 290 milhões para explorar o lítio, um elemento-chave nas baterias. Em 2022, a empresa conseguiu um contrato para extrair até 80 mil toneladas de lítio.

“O Chile tornou-se o melhor exemplo de adaptação e visão para o futuro, demonstrando que a sua estabilidade e compromisso com a inovação o posicionaram como líder na América Latina”, disse Li.

O acesso a mais lítio consolidará a posição da China como fabricante líder de baterias para veículos elétricos.

Dados da Delta Analysis, um rastreador do mercado de baterias de lítio e EV, mostram que as importações de carbonatos de lítio pela China cresceram nos últimos anos, com o país importando 10,8 mil toneladas somente em dezembro de 2022, cinco vezes mais que no mesmo mês de 2019. Nesse mesmo ano, a China exportou cerca de 51 bilhões de dólares em baterias de íons de lítio.

Movimentos estratégicos

“Este interesse crescente reflete-se nos recentes movimentos estratégicos de empresas como a BYD e a Geely numa região que tem sido tradicionalmente dominada por fabricantes da América do Norte e da Europa”, disse Olivero Garcia, presidente da Associação Nacional para a Mobilidade Sustentável da Colômbia. “O crescente investimento das montadoras chinesas na região está a impulsionar a concorrência e a promover a transferência de tecnologia e conhecimento”, acrescentou.

A Geely formou uma joint venture com o Grupo Renault da França, para adquirir sete fábricas em todo o mundo, incluindo uma em Córdoba, Argentina.

As fábricas produzem peças de alumínio para caixas de câmbio e vão exportá-las para transmissões que a nova empresa, Horse, produz em outras fábricas no Chile e no Brasil para abastecer empresas como Renault, Dacia, Nissan e Mitsubishi.

“Temos o prazer de embarcar nesta jornada para nos tornarmos líderes globais em tecnologias híbridas, fornecendo soluções de baixas emissões para fabricantes de automóveis em todo o mundo”, disse Eric Li, presidente do Geely Holding Group, à mídia local.

Para Cristian Inderkumer, diretor de pesquisa da Associação Civil para a Cooperação Argentina-China, o impulso gerado pela iniciativa chinesa da nova rota da seda, projeto ao qual a Argentina aderiu recentemente, impulsionou diversos projetos de investimento.

“O setor automotivo não foge a essa lógica e cada vez mais carros vindos da China competem no mercado argentino”, afirmou.

“O desafio agora é convencer o consumidor argentino da excelente qualidade dos carros chineses, já que o consumidor argentino é mais tradicional e sempre focou em marcas de mercados mais convencionais”.

A BYD iniciou operações na Colômbia, fornecendo com sucesso ônibus elétricos para o país, repetindo a estratégia e o mesmo processo do Chile.

Em 2022, a BYD vendeu o maior número de EVs com bateria em todo o mundo.

A Great Wall Motor, ou GWM, adquiriu a fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) e está atualizando-a para atender aos requisitos globais de fábrica inteligente e iniciar as operações em janeiro de 2024.

A operação brasileira da GWM será a primeira fábrica especializada na  nova energia e na produção de veículos elétricos e híbridos no Brasil, disse o vice-presidente Geraldo Alckmin, durante visita à fábrica no início de maio. No início de julho, a empresa também apresentou seu modelo ORA 03 no Brasil.

“A China está olhando mais para países que têm mercados potenciais que não são muito desenvolvidos (mobilidade elétrica), e a América Latina é uma grande oportunidade”, avalia Henrique Reis, gerente de relações internacionais do China Trade Center Group em São Paulo, em relação com o movimento das montadoras chinesas na região.

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