O caminho para alcançar a mobilidade ideal e o transporte sustentável, passará pela descarbonização dos transportes, com matrizes energéticas neutras de CO2. Sistemas eletrificados, biogás e novas alternativas de biocombustível são as soluções apontadas com maior viabilidade para o Brasil. Essa é a conclusão de profissionais e lideranças do setor de engenharia que participaram do painel temático “Caminhões e Ônibus” que integrou o 28º Congresso SAE BRASIL de Mobilidade.
O presidente da BSBIOS Energia Renovável, Erasmo Carlos Batistella destacou a eficiência do biocombustível HVO (Hidrogenated Vegetable Oil), feito a partir de óleo vegetal, hidrogênio e gordura animal para um transporte sustentável. “É um tipo de combustível que pode ser utilizado nos atuais motores sem qualquer necessidade de alteração no sistema mecânico do veículo”, lembrou. “Outro benefício é que, mesmo misturado com outros combustíveis fósseis, não perde a sua eficiência, o que flexibiliza a produção”, salientou.
Com mais de 50 indústrias de biodiesel no Brasil, além da forte agricultura do país, Batistella ressaltou que atualmente é possível alcançar alta produtividade desse combustível. Entretanto, a falta de regulamentação é apontada como o principal entrave e, antes de 2023, não há qualquer previsão para que seja comercializado no mercado brasileiro.
Na América do Sul, o Paraguai foi escolhido para receber a primeira refinaria de HVO da BSBIOS e exportará o biocombustível para os Estados Unidos, Canadá e Europa. Condições econômicas, energia mais barata e menor custo-benefício foram primordiais para a chegada da empresa no país vizinho. Outra solução apresentada de biocombustível foi o SPK, que busca substituir o querosene, utilizado na aviação, por uma solução menos poluente.
“O Brasil possui uma grande matriz energética limpa e disponível, como eólica, solar e hídrica. Outros países falam de mobilidade sustentável, mas sua matriz está contaminada com CO2”. Rafael Paniagua, presidente da ABB Brasil
Combustíveis a gás e biogás também foram demonstrados como alternativa de transporte sustentável pelo vice-presidente de R&D da Scania, Jesper Wiklander, que destacou a eficiência do produto, principalmente para a redução da emissão de CO2. Dependendo da tecnologia aplicada com esses combustíveis, o redução da poluição emitida pode chegar a até 90%. “Há dois anos, o acordo de Paris foi assinado com o comprometimento de equilibrar essas ações. Se não tomarmos providências em uma paridade entre 2050 e 2060, não conseguiremos impedir o aquecimento global. Precisamos de uma nova sociedade elétrica, que utilize fontes renováveis, reduzindo assim a produção de energia”, alerta.
Veículos movidos por eletricidade foram destacados pelo head of automotive da Siemens, Alexandre Sakai. Ele garante que não há dúvidas de que o futuro da mobilidade esteja nos veículos autônomos, compartilhados e conectados, bem como nos elétricos. Entretanto, alerta para a questão da infraestrutura. “Temos que avaliar se teremos condições de carregar esses veículos sem causar qualquer interrupção no fornecimento de energia de uma cidade ou bairro. Precisamos saber se vamos conseguir ‘alimentar’ toda uma frota por meio de fontes renováveis ou se garantiremos segurança energética por meio de armazenamento de bancos de baterias, por exemplo”, questiona.
Veículos autônomos
O cenário dos veículos autônomos na mineração também foi outro assunto debatido no painel. Segundo o vice-presidente de soluções autônomas da Scania, Häkan Schildt, testes já ocorrem em áreas confinadas, mas ainda existem percalços para que a solução chegue ao mercado nacional e internacional. “Não é simplesmente retirar o motorista da cabine, ou então comprar o veículo e sair andando. Precisamos atuar de forma colaborativa para criar uma nova estrutura e repensar todos os processos”, salienta. “Nesses veículos, utilizamos tecnologia dotada de sensores e esse processo precisa ser inteligente para tomar suas próprias decisões. O investimento é muito grande, custa bilhões, e não podemos colocar algo em risco por conta de uma tecnologia que, de fato, ainda não foi comprovada”.
Para o chairperson do comitê Caminhões e Ônibus, Anibal Machado, a chegada dos veículos autônomos é um caminho sem volta. Os veículos estão cada vez mais autônomos e logo estarão funcionando sem a necessidade de um motorista, porém isso não ocorrerá no curto prazo. “Há um caminho bastante desafiador pela frente, pois temos o compromisso de zelar pelo nosso meio ambiente. O que ficou claro para nós é que não tem uma tecnologia específica que vá garantir mais sustentabilidade, mas, sim, várias opções para cada segmento ou aplicação, seja eletro híbrida, eletro pura, ou biocombustível, como HVO”, analisou.
O painel tratou ainda de servitização, que já é uma tendência significativa no mercado. “Não se trata mais de vender um produto que transportará a carga, mas, sim, de oferecer uma solução de transporte integrada que garanta levar a carga de um ponto A a um ponto B, utilizando-se muito mais do processo de prestação de serviço do que um modelo de venda tradicional”, definiu o professor e consultor em servitização, Renato Ferreira Junior.
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