25 de novembro de 2024

Empresas de ônibus tentam inovar com aplicativos de transporte compartilhado

Diz-se que os bons exemplos devem ser seguidos. Pois é isso que as empresas do setor de transporte coletivo começaram a fazer. Impactadas pelos aplicativos de transporte individual e de compartilhamento de viagens, que atraíram boa parte de seus passageiros e abocanharam parcela significativa de suas receitas, as empresas de ônibus decidiram seguir o exemplo e usar estratégias semelhantes com a criação de apps de compartilhamento para ônibus e serviços inovadores na tentativa de recuperar os clientes perdidos e atrair novos passageiros para o transporte coletivo.

https://futuretransport.com.br/wp-content/uploads/2019/08/NTU-otavio-cunha-queda-passageiros-1.mp4
Assista: Otávio da Cunha Filho, presidente-executivo da NTU, fala sobre a queda no número de passageiros transportados

De abril do ano passado para abril deste ano, o sistema nacional de transporte por ônibus perdeu 12,5 milhões de passageiros, ou cerca de 4,3% do total. “Continuamos em nível de queda e não sabemos onde vamos parar”, alerta Otávio da Cunha Filho, presidente-executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Segundo ele, a crise aponta duas direções para o setor: melhorar a qualidade do serviço e inovar na forma de transportar e tratar o cliente. Aliás, um dos pontos mais enfatizados, na semana passada, durante a 33ª edição do Seminário Nacional da NTU, em Brasília (DF), foi a importância de parar de tratar o passageiro por “usuário” e começar a chamá-lo de “cliente”, com todas as conotações que esse substantivo merece.

apps de compartilhamento para ônibus

Entre essas inovações estão os apps de compartilhamento para ônibus que surgem na esteira do modelo Uber, só que voltados para o transporte público coletivo. A capital Goiânia (GO) já colhe bons resultados do chamado CityBus, um serviço de transporte sob demanda que começou em fevereiro, feito por veículos Mercedes-Benz Sprinters, de 15 lugares, por meio do aplicativo CityBus 2.0. O pagamento pode ser feito em dinheiro ou cartão de crédito e as tarifas são variáveis, a partir de R$ 2,50.

Outro exemplo de apps de compartilhamento para ônibus no setor é o UBus, uma plataforma de tecnologia para o transporte coletivo implantada como um sistema piloto no município de São Bernardo do Campo (SP). O passageiro baixa o aplicativo, escolhe a rota com base na origem e destino e pode agendar horário e reservar assento. O pagamento pode ser feito por cartões de crédito ou débito. Segundo Milena Romano, CEO da UBus, é fundamental nesse tipo de transporte a integração das rotas com o serviço público tradicional e que a operação seja feita por empresas de transporte regulamentadas, para evitar os riscos da clandestinidade. Uma das vantagens é a rapidez já que as vans cadastradas no aplicativo podem circular pelas faixas exclusivas de ônibus. 

Há também ações para cativar o cliente do ônibus, como o Ecobonuz, um programa de fidelidade focado no transporte coletivo em que o passageiro pode acumular pontos cada vez que usa seu cartão de transporte e depois trocar essa pontuação por diferentes benefícios. O sistema foi implantado em parceria com empresas de ônibus de algumas cidades mineiras, entre elas Coronel Fabriciano, Ipatinga e Varginha. O aplicativo é gratuito.

Infraestrutura

Além de melhorar a qualidade do serviço para estancar a queda no número de passageiros, que nos últimos quatro anos teve retração de 25,9%, Cunha Filho destaca a necessidade da execução de obras estruturais que viabilizem a circulação segura dos ônibus e de maneira mais ágil. Desde o ano passado apenas três novos projetos foram consolidados no sistema, sendo um corredor de BRT (Bus Rapid Transit) em Niterói (RJ), uma faixa exclusiva para ônibus também em Niterói e uma faixa exclusiva em Curitiba (PR). “Nós temos 248 projetos engavetados, paralisados, incluindo sistemas de BRT, corredores e faixas seletivas”, ressalta o executivo. Ele diz que os municípios estão sem capacidade de endividamento. “Alguns municípios tomaram esses recursos inicialmente e depois não deram conta de amortizar os valores já recebidos. A má aplicação dos recursos públicos é a tônica disso”, declara.

Há também a falta de pessoal qualificado nos municípios para organizar os sistemas de transporte coletivo. “A faixa exclusiva é barata e mesmo assim eles não fazem, acredito que seja despreparo dos órgãos locais”, afirma.

Por isso mesmo, o Seminário Nacional da NTU deste ano escolheu o tema “Inovação e reinvenção: o futuro de transporte público na perspectiva da sociedade”. O setor formatou um documento com o mote “Construindo hoje o amanhã – propostas para o transporte público no Brasil” que reúne cinco metas para ações de governos na área de mobilidade para tentar recuperar a demanda perdida. “Vamos ter que nos reinventar com flexibilidade para ajustar a oferta e o preço de acordo com a maneira que se locomove hoje nas cidades”, diz Cunha Filho.

Ailton Brasiliense, presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), que participou da primeira parte do seminário, assinalou que o planejamento das cidades foi “distorcido” porque priorizou o transporte individual, o que contribuiu para se chegar aos problemas que existem hoje no transporte público.

Outra ação desenvolvida pela NTU para inovar no setor foi o lançamento do “Coletivo”, um programa de inovação em mobilidade urbana para startups, empresas inovadoras e pequenos empreendedores apresentarem projetos com soluções criativas para a área de mobilidade. As propostas envolveram novos modelos de negócio e tecnologias para sistemas de informação aos passageiros, meios de pagamento, monitoramento de frota e outros pontos ligados ao transporte coletivo.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*


Sair da versão mobile