“Estamos preparados para atender às tendências do transporte e da mobilidade. Temos agora as bases para viver e desenvolver o futuro”, declarou Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO América Latina, durante evento de inauguração do novo campo de provas para caminhões e ônibus Mercedes-Benz.
Construído em um terreno de 1,3 milhão de metros quadrados – tamanho equivalente a 150 campos de futebol –, ao lado da fábrica de automóveis da Mercedes em Iracemápolis, no interior de São Paulo, o novo campo de provas funciona como um laboratório a céu aberto que simula as características de durabilidade de caminhões e ônibus que circularão em diferentes ruas e estradas do país. Cada trecho foi desenhado para testar aspectos específicos dos veículos, como robustez, ruído, segurança e performance off-road.
O circuito é formado por 16 pistas de testes num total de 12 quilômetros de extensão, sendo 14 pistas para verificação de durabilidade estrutural, uma de conforto acústico e térmico e uma de terra para avaliação de veículos que operam fora de estrada, como os extrapesados usados na cana-de-açúcar, grãos e mineração.
Com esse campo próprio para realizar testes de durabilidade, a Mercedes – que até então testava seus caminhões e ônibus nas pistas de terra da Fazenda Pimenta, em Indaiatuba (SP), alugava outras pistas ou avaliava os produtos diretamente nas estradas – vai ganhar eficiência e agilidade já que cada quilômetro rodado no novo campo de testes equivale a 60 quilômetros de uma operação em ruas e estradas convencionais, um ganho de tempo significativo em cada projeto.
“No passado, era preciso de 50 mil quilômetros de testes para aprovar um produto, agora conseguimos fazer em um terço disso, com muito mais eficiência”, diz Christof Weber, vice-presidente de desenvolvimento de caminhões e agregados da Mercedes-Benz do Brasil.
Philipp Schiemer destaca que o campo foi construído levando em consideração características diferentes do perfil de cada cliente da marca; o projeto seguiu as mesmas especificidades do campo de provas da Daimler em Wörth, na Alemanha, e o objetivo é seguir o mesmo padrão técnico e métrico exigidos e seguidos pelas demais unidades da empresa.
Foram usadas na pista de testes de durabilidade mais de 840 placas de concreto pré-moldado que não se repetem e que têm exatamente o mesmo perfil das que estão nas pistas da Alemanha e na de Madras, nos Estados Unidos. Foram desenvolvidas aqui no país, pela indústria Leonardi. Os materiais usados devem assegurar 30 anos de uso das pistas, sem alteração na consistência das placas.
“O Brasil tem um papel importante na cadeia global de desenvolvimento da Mercedes-Benz. Os veículos testados no Brasil agora estão aprovados para todo o mundo”, ressalta Christof Weber, destacando que o novo campo reúne o que há de mais avançado no mundo em testes de caminhões.
Indústria 4.0
Todo o controle das provas feitas no campo acontece online, com acompanhamento em tempo real de qualquer veículo que esteja sendo testado em qualquer pista da Daimler no mundo, o que confere maior transparência aos testes. Isso é possível com o uso do Driver Guidance System, uma tecnologia de conectividade que permite conexão global, ou seja, os engenheiros podem monitorar com altíssima precisão todos os dados e informações que estiverem sendo avaliados num exato momento pelas equipes de desenvolvimento.
Segundo Camilo Adas, gerente sênior de desenvolvimento de produto da Mercedes-Benz do Brasil, o Driver Guidance System funciona por geoposicionamento militar, que mostra a posição exata de cada veículo.
“Com este campo de provas estamos inaugurando a fase da engenharia 4.0 no Brasil”, diz Schiemer. Ele destaca que o novo campo de provas agiliza o desenvolvimento dos veículos comerciais da empresa para os clientes brasileiros e de outros mercados de exportação.
Neste campo, que é considerado o maior do Hemisfério Sul, foram investidos R$ 90 milhões e as obras duraram 18 meses. Inicialmente, o investimento estava previsto em torno de R$ 70 milhões, mas como a empresa queria uma réplica exata do campo de provas da Alemanha, para poder comparar os testes em condições iguais de pistas, o trabalho foi maior que o esperado para o desenvolvimento das placas de concreto que parecem normais, mas são de alta tecnologia.
De acordo com Schiemer, os incentivos proporcionados pelo extinto Inovar Auto possibilitaram à empresa realizar esse investimento. É nessa linha que ele defende o Rota 2030, como um incentivo positivo para a indústria e para todo o país. No caso de Iracemápolis o terreno já pertencia à Mercedes e, segundo Schiemer, não houve incentivos do governo.
Caminhão laboratório
Para captar as informações necessárias para reproduzir no campo de provas as condições equivalentes à realidade das estradas brasileiras, a empresa trouxe da matriz alemã um caminhão-laboratório, modelo Actros, equipado com mais de 260 sensores que durante 120 dias percorreu 16 mil quilômetros (1.500 km de trechos off-road) coletando dados de diferentes topografias em diversas regiões do país.
O veículo circulou com diferentes simulações de cargas, trações e implementos para possibilitar as medições de deformações, deslocamentos, temperaturas e acelerações. Os sensores captaram dados de 20 cursos de suspensões do veículo e cabine, 69 sinais de acelerações e 64 de deformações distribuídos ao longo do veículo, 16 forças de suspensão de cabina, coxim do motor e quinta-roda do veículo, dois torques e duas rotações dos cardans, sinais de GPS e da estrutura CAN. Seis rodas de medição coletaram dados de força e torque e todos os trechos percorridos foram filmados com câmera full HD para captar a realidade o mais próximo possível e levá-la para as pistas de avaliação.
Esse imenso volume de dados coletado foi analisado para desenvolver o programa de testes com as especificidades da realidade brasileira e para aumentar a eficiência no desenvolvimento de novos veículos.
Segundo Schiemer, a pista poderá ser usada também para testes de veículos autônomos, que vêm ganhando relevância, e elétricos.
Os executivos da montadora já antecipam que poderá haver uma segunda etapa de expansão desse campo de provas, com a inclusão de um circuito de alta velocidade que não foi feito neste primeiro projeto; há espaço para isso e a preparação do terreno já está pronta.
Mercado
A projeção de crescimento para o mercado interno de caminhões e ônibus neste ano mantém-se entre 20% a 30%, mas os riscos aumentaram. “A crise no Brasil e na América Latina não acabou, estamos em situação melhor do que em 2017, mas ainda temos um longo caminho a andar”, alerta Philipp Schiemer.
De acordo com o executivo, a montadora está trabalhando com menos de 50% de sua capacidade de produção. Ele diz que a empresa está preocupada também com o câmbio porque a desvalorização muito rápida da moeda gera insegurança, todos querem aguardar para ver onde vai chegar o novo câmbio.
Os problemas do mercado argentino também preocupam a Mercedes que no ano passado vendeu cerca de 8 mil produtos, entre caminhões e ônibus, para aquele país, o que corresponde a 15% a 20% da produção. “Se a Argentina tem um problema, isso nos preocupa; se perdermos volume lá vamos sentir aqui na nossa produção ”, diz o executivo. No ano passado a Mercedes exportou perto de 40% de sua produção total, mas a previsão é um decréscimo para cerca de 30% em 2018.
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