O conceito de veículos compartilhados foi parar nas gôndolas de Veneza. No mês passado, começou a funcionar na charmosa cidade italiana um aplicativo que reúne pessoas interessadas em dividir o salgado custo de um passeio de gôndola, que sai por cerca de 80 euros (aproximadamente R$ 260) por uma volta de cerca de 25 minutos.
O mais interessante disso tudo é que a ideia e o desenvolvimento do aplicativo couberam a um brasileiro. Em uma das muitas viagens que faz a trabalho para seu escritório, que presta serviço a brasileiros para obtenção de cidadania italiana, o advogado Thiago Naves aproveitou um momento vago no final do expediente para sentar-se na famosa Piazza San Marco e apreciar o movimento local. Ali, ele observou que vários turistas se aproximavam dos gondoleiros, consultavam o preço do passeio e iam embora espantados pelo valor. “Percebi que 80 euros era um valor muito alto”, conta Naves.
Isso aconteceu no primeiro semestre de 2015 e desde então ele passou a se dedicar ao desenvolvimento de uma ferramenta com o objetivo de facilitar a vida do consumidor, neste caso o turista.
Chamado de go Gondola, o aplicativo funciona como um Uber de gôndolas. A pessoa interessada entra no aplicativo – pode baixá-lo gratuitamente – escolhe o dia e a hora em que estará em Veneza e em que gostaria de passear de gôndola, e, se outras pessoas se interessarem pelo mesmo horário, ela recebe um aviso com a confirmação de que foi formado um grupo. Isso pode ser feito com antecedência de meses ou no próprio local, em até dez minutos antes da partida da gôndola. Hoje os horários estão pré-fixados em 10hs, 12hs e 14hs, mas o projeto prevê a expansão dessas opções.
A partir da confirmação do grupo formado, a pessoa recebe os contatos de WhatsApp e de e-mail dos demais interessados para combinar o ponto de encontro para o passeio de gôndola e também um link para fazer uma contribuição de US$ 1,99 no PayPal para o go Gondola. “Por enquanto, essa contribuição é facultativa, ou seja, a pessoa paga à medida que quiser porque ela já terá recebido as informações sobre o grupo dela. Mas quando conseguirmos nos consolidar, vamos inverter isso, a pessoa vai ter que pagar para ter acesso ao grupo”, explica Naves. Antecipadamente, cada usuário do aplicativo já sabe quantas pessoas aderiram ao grupo, ou seja, com quantos turistas vai dividir o valor do passeio de gôndola e pode calcular quanto terá que desembolsar pela diversão. O gondoleiro pode nem saber que as pessoas estão chegando através do aplicativo. “Indiretamente é bom para os gondoleiros porque eles vão trabalhar mais”, ressalta o empresário.
A criação da startup que criou o go Gondola demandou investimentos na casa de US$ 55 mil. Segundo Naves, não foi necessário obter licenças junto a órgãos do poder público italiano. “Optamos por só promover encontros, não temos relação com a atividade dos gondoleiros”, justifica. Mesmo assim, o empresário e sua sócia brasileira Ingrid Spichiger estão abrindo empresa na Itália, para questões tributárias e de ordem empresarial.
Na próxima semana, será lançada a primeira campanha publicitária do go Gondola, que será feita via Facebook, principalmente para a Alemanha e países da Ásia, aproveitando o verão europeu que é a alta temporada em Veneza.
Compartilhamento de táxis
Mas a ideia de compartilhamento não terminará nas gôndolas. A startup de Naves já estuda ampliar a tecnologia aplicada nesta primeira ferramenta para criar uma série de aplicativos, tanto na área de transporte e mobilidade quanto para passeios de turismo. Uma das ideias é promover encontro de pessoas para formar grupos que consigam acessar museus por uma tarifa reduzida.
“Este é só o começo de uma tecnologia que queremos revolucionar, de encontros de pessoas versus preços. Já começamos estudos de um aplicativo para passeios de balão, que existem em diversos lugares do mundo, e apostamos no uso dessa tecnologia para criar encontros vinculados a um pool de táxis para pessoas que estão indo para aeroportos, um táxi compartilhado. Em Belo Horizonte, por exemplo, o preço do táxi é um absurdo para ir até o aeroporto de Confins e poderia cair bastante, é uma mera questão de organização”, afirma Naves.
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