21 de janeiro de 2025

Caminhos para um transporte de melhor qualidade

seminário NTU

A prolongada crise na economia nacional, que resultou em redução na atividade industrial e desemprego, acabou afetando também o setor de transporte coletivo, a despeito de toda a campanha que se tem feito em apoio à substituição do transporte individual, no caso o automóvel, pelo transporte público. No ano passado, cerca de três milhões de passageiros/dia deixaram de usar ônibus urbanos em seus deslocamentos.

Essa informação faz parte de um estudo que é feito anualmente pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) sobre o desempenho do setor e, no ano passado, indicou uma redução média de 8,2%, em relação a 2015. Nos últimos três anos, o volume de passageiros caiu 18,1%.

Na opinião de Otávio Vieira da Cunha Filho, presidente-executivo da NTU, a mobilidade urbana nacional tem problemas estruturais sérios e sofre com a falta de uma política pública consistente para o transporte coletivo, com planejamento de longo prazo e que trate de questões como as gratuidades e o financiamento do setor. “Há inúmeras questões a serem amadurecidas e é preciso estabelecer estratégias para resolvê-las”, diz Cunha Filho.

 

Otávio Cunha: “No mundo mais desenvolvido o transporte público é de muito boa qualidade porque a sociedade cobra isso dos governos e eles investem efetivamente. A sociedade brasileira não tem a tradição de cobrar isso dos poderes públicos constituídos”.

 

Para levantar todos os problemas que rondam o setor e propor soluções para sair dessa crise, a entidade inicia hoje (29/08) o Seminário Nacional NTU 2017, em São Paulo. Sob o tema “Qualidade no Transporte Público: Uma demanda Social”, serão discutidas questões como qualidade do serviço de transporte público, infraestrutura e investimentos necessários, segurança jurídica dos contratos vigentes e metodologia de cálculo tarifário, em um ambiente que congrega representantes do poder público, empresários vinculados ao transporte de passageiros e secretários municipais de transporte responsáveis pelo planejamento da mobilidade de suas cidades.

Uma das mudanças mais recentes no segmento é o novo método de cálculo dos custos do transporte coletivo, em substituição à planilha da Empresa Brasileira de Planejamento de Transporte (Geipot), que foi usada como base nos últimos 30 anos. Este mês, a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) elaborou nova metodologia com o objetivo de corrigir desatualizações, além de considerar um total de 36 itens que passaram a impactar na real necessidade da operação do serviço.

Uma das questões mais presentes entre os empresários do setor é a de como se obter os recursos necessários para os investimentos contínuos na infraestrutura sem elevar a tarifa, que precisa ser acessível a todas as classes sociais. Faz parte das discussões a criação de um fundo para subsidiar parcialmente o serviço. Segundo Cunha Filho, a criação de uma Cide municipal (imposto sobre o combustível) poderia, já em um primeiro momento, financiar 30% do custo do transporte.

 

“Uma pesquisa que está em fase final de execução aponta que se a tarifa fosse reduzida em R$ 1, muitas das pessoas que deixaram o transporte e estão se locomovendo por outros meios, como a pé ou de bicicleta, retornariam para o transporte público. Isso atrairia uma demanda nova e entraria em um círculo virtuoso porque com mais passageiros pagando pelo serviço é possível reduzir mais ainda o preço da tarifa”, defende Cunha Filho.

 

As gratuidades para passageiros dos ônibus também estão frequentemente na mira das discussões do setor. Hoje 17% do custo do transporte está vinculado às gratuidades.

Outros pontos relevantes desses debates, segundo Cunha Filho, envolvem planejamento e responsabilidade. “Faltam estratégias de como obter esses resultados, falta vontade política, falta conhecimento desses problemas e a gente não sai do lugar. No mundo mais desenvolvido o transporte público é de muito boa qualidade porque a sociedade cobra isso dos governos e eles investem efetivamente. A sociedade brasileira não tem a tradição de cobrar isso dos poderes públicos constituídos. Existem só iniciativas pontuais em alguns lugares. Algumas cidades brasileiras fizeram o dever de casa, como Belo Horizonte (MG), Goiânia (GO) e Curitiba (PR), que fizeram investimentos de muitos anos e hoje estão colhendo esses frutos”, assinala o executivo.

Feira de ônibus

No evento deste ano, a NTU aproveita para comemorar os 30 anos de sua fundação e, paralelamente ao Seminário Nacional NTU, acontece a Feira Transpúblico 2017. Mais de 20 ônibus estarão no evento expondo para os visitantes as últimas versões de chassis e carrocerias das marcas Marcopolo, Neobus, Caio Induscar, Comil, Mascarello, Volare, Scania, Mercedes-Benz, MAN e Volvo, além dos chassis elétricos da chinesa BYD.

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