Enquanto no Brasil requentamos o discurso dos gargalos logísticos e da falta de investimentos em infraestrutura, Itália e China assinaram neste sábado (23), em Roma, um acordo de 2,5 bilhões de euros (US $2,8 bilhões), informa a agência italiana de notícias (ANSA). De acordo com o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, estes valores podem chegar a 20 bilhões de euros.
O acordo é sobre a chamada “Nova Rota da Seda“, megaprojeto do país asiático que levará investimentos trilionários em infraestrutura e comunicações a dezenas de nações do mundo.
O pacto foi firmado em uma cerimônia com Giuseppe Conte, e o presidente chinês, Xi Jinping, que está em visita oficial à península. Com isso, a Itália se tornou o primeiro membro do G7 e uma das maiores economias da União Européia, a aderir ao “One Belt, One Road” (um cinturão, um caminho, em tradução livre).
O ambicioso projeto de soft power foi lançado por Xi em 2013 e prevê ao menos US$ 1 trilhão em investimentos chineses nos setores de infraestrutura e comunicações, inspirando-se nas antigas rotas comerciais da seda que ligavam o Oriente ao Ocidente.
A ideia chinesa é refazer o cinturão logístico que mudou para sempre a história do comércio mundial a partir do primeiro século da nossa era. Originalmente, a Rota da Seda chinesa interligava mercados da Ásia, Europa, África, Oriente Médio e Oceania por meio de estradas nas quais circulavam grandes caravanas de cavalos, burros, camelos e dromedários, além de portos marítimos ao longo de todo o Oceano Índico e do Mar Mediterrâneo.
A reedição da Rota da Seda é um símbolo das atuais pretensões geopolíticas da China. Os animais e barcos a vela da antiga rota foram substituídos por modernas autopistas, túneis, ferrovias, dutos e portos para gigantescos navios cargueiros que fazem usos de estruturas logísticas construídas e muitas vezes financiadas por instituições chinesas.
Um dos pactos firmados prevê o fim da dupla tributação de produtos que circulam entre os dois países. Outro estabelece uma parceria entre a estatal China Communications Construction Company (CCCC) e o Porto de Trieste, que deve se tornar o principal vetor da “Rota da Seda” na Itália.
Atualmente, quem cumpre essa função é o porto de Pireu, em Atenas, na Grécia. A negociação entre o presidente da China, Xi Jinping, e o presidente da Itália, Sergio Mattarella, inclui um memorando não vinculante. Isso significa que ele não impõe obrigações desde já aos dois países, mas lança as bases para a adoção de compromissos futuros.
O memorando de entendimento inclui a modernização de infraestruturas ferroviárias em uma grande área na capital de Friuli Veneza Giulia e a melhoria das conexões do Porto de Trieste com o centro e o leste da Europa. Outro acordo, também com a CCCC, prevê o aumento das docas do Porto de Gênova.
A One Belt, One Road já havia atraído o interesse de outros países da União Europeia, como Grécia, Hungria, Polônia e Portugal, mas a adesão da Itália representa um apoio inédito de uma grande potência ocidental ao projeto.
A “Nova Rota da Seda” é vista como um plano de longo prazo de Pequim para fazer frente à hegemonia dos Estados Unidos e garantir robustos índices de crescimento econômico pelos próximos anos. A Itália, por sua vez, busca maneiras de reaquecer sua economia, que está em recessão técnica, por meio de investimentos em infraestrutura e do incentivo à exportação do “made in Italy” ao maior mercado do mundo.
Brasil
A China, por meio de suas empresas, afirmou em várias ocasiões que um dos principais focos de investimento no Brasil é a infraestrutura logística em portos, rodovias ou ferrovias.
Um exemplo claro é a China Communications Construction Company (CCCC), que entrou no Brasil em 2016, ao comprar 80% de uma construtora de médio porte, a Concremat, por R$ 350 milhões. Em 2017 fechou a aquisição de 51% do porto de São Luís (MA), onde é sócia da WPR, da família do empresário Walter Torres.
Com faturamento global de US$ 70 bilhões, a maior empresa de infraestrutura da China tem planos ambiciosos para o País. De terminais agrícolas como o TGB de Babitonga, em Santa Catarina, até uma fatia minoritária da ferrovia Malha Sul, da Rumo Logística. A estatal chinesa também está de olho nos leilões do setor de infraestrutura, como o projeto da Ferrovia Ferrogrão, e a construção e operação da ponte Salvador-Itaparica, na Bahia, ente os municípios de Salvador e Vera Cruz em um trecho de 12,4 quilômetros. Um projeto orçado em R$ 5,3 bilhões.
Conclui-se que os recursos para investimentos em infraestrutura podem desembarcar no Brasil. Resta saber se a burocracia e a política brasileira também pensam assim.
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