Desde que o termo foi utilizado pela primeira vez em 2017, durante o Tech Festival em Copenhagem, até os dias de hoje, a micromobilidade vem ganhando espaço e adeptos pelo mundo afora.
Definida como meios de transporte pequenos, de tração elétrica, que circulam a uma velocidade de até 25 km/h e utilizados em viagens de até 10 km de distância, a micromobilidade abarca também a chamada mobilidade ativa – a locomoção que acontece por meio de energia humana, como caminhadas e o uso de bicicletas não elétricas.
De fato, a mobilidade ativa apresenta um considerável potencial não explorado, uma vez que 35% dos deslocamentos urbanos são feitos em um raio de 5 quilômetros e 50% de todos os deslocamentos acontecem dentro de 10 quilômetros. Ainda assim, na maioria dos lugares, os modos ativos não são os mais utilizados.
De qualquer maneira, a micromobilidade é uma alternativa aos ônibus lotados, além de contribuir para menos trânsito e menos dióxido de carbono na atmosfera.
O transporte de massa é essencial para o bom funcionamento das cidades, mas a caminhada, a bicicleta e os micro veículos de tração elétrica são os meios de transporte mais verdes de fato, além de exigirem investimentos muito menores.
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De acordo com Alexandre Delijaicov, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, do ponto de vista da infraestrutura, não há nenhum impeditivo para a micromobilidade nas cidades brasileiras. É mais uma questão de ética na formação dos condutores. As pessoas têm que se colocar no papel das outras e respeitar os mais frágeis no trânsito.
No Brasil, muitas cidades disponibilizam diversas estruturas de transporte (redes para mobilidade a pé ou de bicicleta, transporte público e veículos de micromobilidade), mas em muitos casos elas não estão conectadas de forma a maximizar o potencial de toda a rede de transportes.
Os deslocamentos multimodais são aqueles em que as pessoas usam vários meios de transporte para chegar ao seu destino. A integração multimodal torna esses deslocamentos mais fáceis e baratos ao melhorar a conexão entre as diversas infraestruturas e formas de pagamento.
Cidades brasileiras têm tratado a micromobilidade compartilhada com preocupação, criando e implementando regulamentações rígidas para combater eventuais impactos negativos, tais como o excesso de oferta e a condução insegura. À medida que as cidades foram aprendendo umas com as outras, começaram a surgir recomendações de boas práticas para a regulamentação da micromobilidade compartilhada. No entanto, na maioria dos casos, apenas a regulamentação de bicicletas e patinetes compartilhadas não habilita as cidades a explorarem todo o potencial destes modos no preenchimento das lacunas de suas redes de transporte.
A mudança no comportamento e a maior conscientização da população, criaram um ambiente favorável para que mais pessoas aceitem os modos de mobilidade alternativos e sustentáveis.
A Associação Internacional de Energia estima que um aumento do uso de veículos compartilhados, transporte público e micromobilidade poderia reduzir o consumo global de petróleo em até 800.000 barris por dia ou quase 300 milhões de barris por ano, o que consequentemente economizará dinheiro e reduzirá os poluentes atmosféricos nocivos. A redução do uso de veículos particulares também tem o potencial de liberar áreas urbanas valiosas que atualmente são usadas para estacionar veículos
E por falar em futuro, na esteira do comportamento ambientalmente correto, criou-se também um nicho de mercado com enorme potencial, que foi estimado pelo McKinsey Center for Future Mobility em algo próximo a US$ 450 bilhões (R$ 2.312 trilhões) nos EUA e na Europa até 2030. A crescente aceitação da micromobilidade entre o público é reforçada pela tecnologia cada vez melhor, mas também porque é uma forma mais amigável com o ambiente para se deslocar na cidade, quando comparada com as viagens de carro.
O uso da bicicleta aumentou 200% no Reino Unido durante os lockdowns de 2020, enquanto 500 mil bicicletas elétricas foram vendidas nos Estados Unidos no mesmo ano, mais do que qualquer veículo elétrico. Centenas de cidades transformaram ruas em exclusivas para pedestres, reduziram limites de velocidade e instalaram ciclofaixas temporárias. Paris, por exemplo, diminuiu os limites de velocidade para 30 km/h e implementou 50 quilômetros de ciclofaixas temporárias, o que fez o número de ciclistas subir consideravelmente. A cidade planeja instalar outros 180 quilômetros de ciclovias permanentes até 2026.
Guardando as devidas proporções e considerando o “delay” para que inovações tecnológicas, ambientais e comportamentais cheguem por aqui, a micromobilidade no Brasil também possui um grande potencial que começa a ser explorado, tanto como modelos de negócios, como, principalmente, uma aliada das políticas públicas quando integrada ao sistema de transporte urbano de pessoas.
Para saber mais acesse o estudo do ITDP – Como Maximizar a Micromobilidade
Sobre o ITDP
O Institute for Transportation & Development Policy (ITDP – Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento) é uma organização sem fins lucrativos, constituída em na cidade de Washington, EUA, em 1985 e sediada em Nova York, e tem como missão, promover o transporte ambientalmente sustentável e equitativo em todo o mundo. O instituto trabalha com governos municipais para implementar projetos de transporte e desenvolvimento urbano que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e a poluição, ao mesmo tempo que impulsionam a habitabilidade urbana e as oportunidades econômicas.
No Brasil, a atuação do ITDP se dá em duas escalas: no âmbito federal, de modo a contribuir para a implementação efetiva da Política Nacional da Mobilidade Urbana (Lei 12.587/2012), e no âmbito municipal e/ou metropolitano, apoiando as cidades diretamente. A atuação do ITDP é fruto de diversas parcerias com entes públicos e organizações da sociedade civil, tais como ANTP, UCB, IPEA, NTU e WRI Brasil.