Uma marcha mais rápida foi engatada no mercado nacional a partir do segundo trimestre. De lá para cá, as vendas de caminhões vêm subindo, mas não ainda ao ponto de garantir um crescimento de vendas frente ao já baixo volume de 2016. Diante desse cenário, mais do que uma virada, a Fenatran 2017 servirá como termômetro para se medir o otimismo de recuperação em curso.
Uma coisa é certa: se o mercado recorde de 2011, com 172.900 caminhões comercializados em razão de juros subsidiados de 3% ao ano era irreal, o de 2017, com 50 mil unidades projetadas, também não é verdadeiro. Saber em qual patamar as vendas vão se equilibrar nos próximos dois anos talvez seja a pergunta a ser respondida na Feira Nacional do Transporte.
Descolado da política em frangalhos, hoje já se pode afirmar que grande parte do clima de incertezas e pessimismo da economia foi deixado para trás. É neste novo ambiente de inversão de expectativas que Mercedes-Benz, MAN-Volkswagen Caminhões e Ônibus, Scania, Volvo, DAF, Iveco e Ford vão apresentar novos produtos e serviços direcionados ao rodoviário de carga – foco da feira.
Essas montadoras acabam puxando todo o restante de uma complexa cadeia formada por fabricantes de implementos, autopeças, insumos, pneus e soluções eletrônicas, entre outros produtos. Ao se mudar para o novo endereço do Expo Center, a feira deixou para trás no velho Anhembi todo o pessimismo da última edição da Fenatran, marcada pela ausência de grandes fabricantes.
“Acho que a edição desta Fenatran mostrará que a indústria não parou de investir e apresentar novidades, mesmo no pior momento do mercado”, afirma Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford e presidente interino na última reunião da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
“Não vamos esperar um ambiente de animação total durante a Fenatran, pois o público que compra caminhão é extremamente racional e profissional em suas decisões”, pensa Golfarb. “As vendas só voltarão a um nível mais saudável quando realmente houver uma recuperação sustentável da economia.”
Mas foi confiando na recuperação que a Mercedes-Benz acaba de anunciar um aporte de R$ 2,4 bilhões na operação brasileira, que tem na produção de caminhões e chassis de ônibus seu destaque.
Uma das grandes apostas na Fentran é da MAN, que acaba de apresentar um novo produto fruto do investimento local de R$ 1 bilhão. Pela primeira vez um grande fabricante, desenvolveu um caminhão localmente para disputar o segmento de 3,5 toneladas de Peso Bruto Total (PBT).
O novo Delivery Express tem a pretensão de dominar o segmento local e conquistar vários mercados mundiais, a partir de sua base de produção em Resende (RJ). Na Alemanha, uma versão elétrica do veículo acaba de ser apresentada.
“Se antes o mercado local era o bastante, agora não mais”, afirmou o presidente da MAN, Roberto Cortez. “Nossa meta agora é o mercado mundial.” O presidente mundial da MAN, Andreas Renschler, estará presente na Fenatran para fazer a apresentação oficial do Delivery para o mercado nacional.
A Mercedes-Benz também tem várias ações na linha de caminhões e comerciais leves. A Feira vai marcar o lançamento de uma edição especial da Sprinter, que comemora 20 anos no mercado brasileiro. A Sprinter é um dos veículos mais desejados entre os clientes que atuam tanto em transporte de passageiro como o de cargas.
A Ford vai exibir o protótipos de um caminhão semiautônomo e de um boné “anti-sono”. Acabando de completar 60 anos de produção local de caminhões, a Ford quer demonstrar força na feira com toda a sua linha de produtos.
O projeto do Cargo semiautônomo tem como foco o segmento de caminhões leves e médios para atender autônomos e pequenos frotistas. O protótipo foi desenvolvido em parceria com a Bosch, a Autotrac (empresa do segmento de rastreamento e telemetria), a Cummins e a Eaton, tradicionais fornecedoras de motores e transmissões dos caminhões Ford.
“O Cargo Connect traz uma visão de caminhão conectado, com tecnologias inteligentes de direção semiautônoma que podem ser lançadas no mercado entre três meses e três anos”, diz João Pimentel, diretor de Operações de Caminhões da Ford América do Sul. “São soluções já desenvolvidas para outros segmentos de veículos, classificadas como nível 2 de automação, que podem agregar produtividade e segurança antes da chegada dos veículos totalmente autônomos.”
A Scania apresenta na feira seus dois novos motores de 13 litros na linha de caminhões rodoviários, com potência de 450 e 510 cavalos. As duas configurações prometem, além do esperado melhor desempenho, alcançar velocidade média superior e entregar ao frotista uma economia de combustível que pode chegar a até 5%, em comparação à versão atual do modelo de 13 litros.
Além das novas opções de motorização, a montadora elegeu três outros destaques para a Fenatran: o recém-lançado Heavy Tipper, caminhão vocacionado para operação em mineração; a solução Driver Services, desenvolvida para aprimorar o desempenho dos motoristas à frente dos veículos da marca; e o Programa de Manutenção Scania com Planos Flexíveis, que traz novos benefícios para os clientes.
A Citroën também aproveita a Fenatran para apresentar ao Brasil o novo Jumpy, utilitário leve para uso em entregas urbanas. Com este modelo, a montadora pretende repetir o sucesso alcançado na Europa e a boa receptividade que o veículo teve no mundo, onde já contabiliza mais de 600 mil unidades vendidas.
“Estamos trazendo para o mercado brasileiro um produto inovador e muito versátil, mas que será conhecido também pela sua atratividade comercial e seu baixo custo de manutenção. Mais que um novo produto, ele dá início à abertura de uma nova fronteira comercial da Citroën no país, que passa a ter seu foco também na comercialização de veículo comerciais”, afirma Paulo Solti, vice-presidente do Grupo PSA e diretor geral da Citroën do Brasil.
É com ar otimista que a Cummins também vai se apresentar na Fenatran 2017. A empresa mostra várias soluções em telemática, filtros, modernização de motores e componentes.
Um dos destaques é a nova aplicação no segmento de caminhões leves com a motorização nacional ISF 2.8 com tecnologia EGR e turbo de geometria variável – recirculação de gases exaustão. Também terá destaque o motor nacional mais vendido da Cummins, o ISF 3.8 com o sistema SCR (Euro 5).
O presidente da Cummins, Luiz Pasquotto, afirmou que atingirá em 2017 um a alta de 28% na produção em relação ao ano passado, quando industrializou 27 mil unidades. Em 2018, a Cummins prevê crescimento entre 15 % a 20%.
“Estamos muito otimistas em relação ao faturo”, disse Pasquotto. “Coisas muito boas vão acontecer não só no Brasil como em diversas regiões do mundo onde a Cummins atua.” O executivo disse que com todos os empresários com os quais tem conversado sente o mesmo estado de ânimo quanto à recuperação econômica, ainda que de forma gradual.
Importante parceiro e observador da movimentação da Fenatran, o presidente da Associação das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Luiz Montenegro, acredita numa significativa melhora do mercado de crédito até o final deste ano, embora a recuperação se apresente de forma lenta e gradual. “Há uma demanda reprimida, sendo importante o braço financeiro (das montadoras) dobrar o valor dos recursos disponíveis (para financiamento dos veículos novos).”
De acordo com o executivo, o volume de financiamento deve crescer, até o final de 2017, 10,2% em relação ao ano anterior, chegando a um montante de R$ 91 bilhões – valor destinado apenas para automóveis. “Para 2018, mantidas as condições macroeconômicas, deveremos atingir R$ 100 bilhões em empréstimos”, projeta.
Para Montenegro, o aumento do volume de recursos disponibilizados pelos bancos das montadoras é reflexo direto da melhora dos índices econômicos. “Observamos que o nível de desemprego está caindo, a inflação vem perdendo força, inclusive, abaixo do centro da meta, o que reduzirá taxa de juros reais (Selic) para 7%”, observa.
Marco Rangel, presidente da FPT Industrial para a América Latina, afirmou que espera um aumento no volume de produção de até 15% neste ano, principalmente em razão da recuperação do setor agrícola. “Para 2018, projetamos um crescimento gradual consistente com os sinais de recuperação econômica”, afirma.
A FPT também aposta no crescimento gradual e consistente do mercado. “É muito difícil prever a velocidade de recuperação para voltarmos aos níveis “pré-crise”, mas o ano de 2017 está sendo importante para avaliarmos a real curva de recuperação”, acredita. “No entanto, não deve haver grandes escaladas de produção nos próximos anos.”
De acordo com Rangel, as perspectivas futuras do mercado brasileiro permanecem positivas, pois elementos básicos para o desenvolvimento ainda se aplicam ao Brasil: país geograficamente grande, com uma população considerável e potencial para um enorme mercado interno. “Sem falar que ainda necessitamos de investimentos sustentáveis em infraestrutura e, em virtude das previsões de indicadores econômicos serem mais positivas, vemos como provável uma recuperação gradual nos próximos anos”, considera.
Thomas Puschel, diretor de vendas e marketing da MWM, disse que o ano de 2017 começou difícil, mas houve uma virada das vendas no segundo semestre a partir de julho. O executivo afirmou que a economia começou a se deslocar da política, mas ainda se dá sobre uma base ainda muito fraca.
Segundo Puschel, a recuperação tanto deste ano como a do próximo se darão em razão do forte movimento de exportações, que representam 16% da carteira da MWM. México, Argentina, Egito, África do Sul e Rússia são alguns dos países para os quais a companhia está exportando parte de sua produção.
Tendo uma boa participação na exportação de geradores para a Rússia, a MWM também quer atingir o mercado de caminhões e ônibus daquele país, melhorando ainda mais a sua performance em exportação.
Faça um comentário