As dificuldades sofridas com a falta de combustível no período da paralisação dos caminhoneiros levantaram novamente a questão da alta dependência que nossa matriz de transporte tem de combustíveis fósseis, seja para transportar cargas ou pessoas.
Neste momento, ganham destaque novamente as iniciativas ainda isoladas de empresas que investem em motorizações alternativas aos derivados de petróleo, como a eletricidade, hidrogênio, gás metano e outros.
No transporte público de São Paulo, os corredores onde circulam ônibus movidos a eletricidade (trólebus) não foram afetados pela greve que provou desabastecimento de combustível. Segundo informações da SPTrans, órgão gestor do transporte urbano da cidade de São Paulo, durante a paralisação dos caminhoneiros, a operação mínima dos ônibus chegou a atingir 40% da frota programada, mas as linhas de trólebus não foram afetadas.
A frota do sistema municipal de transportes de São Paulo conta com cerca de 14.500 ônibus em operação e, destes, 201 são trólebus, uma proporção mais do que tímida para a maior cidade do país. Há apenas um veículo movido a bateria, que está operando em caráter de teste. É um ônibus com chassi fabricado pela BYD, com carroceria Caio Induscar, 100% elétrico, que opera a título de testes na empresa ETU Expandir Transportes Urbanos, na linha 908T-10 Parque Dom Pedro II-Butantã.
Já os 201 trólebus circulam em dez linhas operadas pela empresa Ambiental Transportes Urbanos. São ônibus compostos por chassis Mercedes-Benz, Scania, TuttoTrasporti e Volkswagen. As carrocerias foram fabricadas pelas empresas Busscar, Caio Induscar e Ibrava.
No edital de licitação de concessão do transporte público sobre pneus da cidade de São Paulo – que foi novamente adiado na última sexta-feira, dia 8, em decorrência de decisão do Tribunal de Contas do Município (TCM) que apontou 51 irregularidades, 20 impropriedades e fez 19 recomendações à licitação –, estão previstas metas para redução de poluentes, sem definição das tecnologias que deverão ser adotadas, e a entrada de 50 novos trólebus para otimizar o aproveitamento da capacidade elétrica instalada.
Vale lembrar também que, no último dia 5, o presidente Michel Temer lançou um projeto para adoção de metas para reduzir as emissões de gás carbônico na matriz de combustíveis em 10,1% até 2028, dentro da Política Nacional de Biocombustíveis, o que mostra a importância de se adotar combustíveis alternativos para o transporte. Os veículos elétricos poderão colaborar também nesse sentido.
Na região do ABC paulista, a Metra Transportes opera uma frota de 260 ônibus, dos quais 85 trólebus, 15 híbridos, dois Dual Bus – conceito de ônibus que reúne duas tecnologias no mesmo ônibus: opera como elétrico híbrido ou só com baterias por 20 quilômetros – e um elétrico puro. Os veículos têm, em sua maioria, chassis Mercedes-Benz com carroceria Caio – alguns híbridos são Mercedes-Benz com carroceria Marcopolo. A Metra é considerada a empresa nacional com mais veículos movidos com fontes de energia renováveis e não fósseis.
Segundo informações da empresa, por ter essa diversidade na frota, os usuários das linhas da Metra praticamente não foram impactados durante a falta de combustíveis decorrente da paralisação dos caminhoneiros.
As montadoras e seus elétricos
Todos os veículos elétricos operados pela Metra foram fabricados no Brasil, a sua maioria pela Eletra, empresa nacional criada em 1988. Atualmente, há cerca de 400 ônibus com tração elétrica da Eletra em operação na grande São Paulo, além de cidades como Rosário, na Argentina, e Wellington, na Nova Zelândia. A fabricante mantém linhas de produção de veículos com as seguintes tecnologias: trólebus (rede aérea); híbrido (grupo motor gerador + baterias); elétrico puro (baterias); Dual Bus – híbrido e trólebus, e Dual Bus – híbrido e elétrico puro.
Outra montadora que avançou muito em seus processos industriais para fabricação de ônibus elétricos no país foi a Volvo, que desde 2012 tem ônibus elétricos circulando em cidades brasileiras. Atualmente, a montadora sueca conta com 35 ônibus híbridos em operações regulares nas cidades de Curitiba (PR), São Paulo (Linha Turismo – SP), Santos (SP) e Foz do Iguaçu (Parque Nacional das Cataratas, no Paraná). Os chassis são modelo B215RH, fabricados na planta da Volvo em Curitiba, com carrocerias das empresas Marcopolo e Busscar. Na América Latina, são cerca de 400 ônibus híbridos Volvo em circulação em linhas regulares nas ruas de Bogotá (Colômbia), Buenos Aires (Argentina) e os já citados no Brasil.
A chinesa BYD é outra fabricante que entrou no mercado nacional em 2015 com fome de expansão. Somente na cidade de Campinas, onde fica a fábrica da empresa, há 12 ônibus elétricos da marca em operação regular e na cidade de Brasília, no Distrito Federal, a operadora Piracicabana adquiriu da BYD o primeiro ônibus 100% elétrico com carroceria nacional, feita pela Marcopolo, chamado de Ebus.
Também a fabricante Volare lançou, no início do ano passado, o Access E, um miniônibus 100% elétrico produzido no Brasil em parceria com a BYD. Atualmente há dois Volare Access-E circulando no país, um está em operação em Santos, no litoral de São Paulo, desde o ano passado, e outro vai iniciar testes neste semestre no Balneário de Camboriú, em Santa Catarina. O modelo tem comprimento e peso reduzidos e conta com piso baixo, suspensão pneumática e zero emissão de poluentes. Sua autonomia é de 200 quilômetros. “Na visão da Volare, o transporte público elétrico é uma alternativa sustentável e eficiente, já utilizada em cidades do país, como Brasília, Campinas, Santos e São Paulo, e que a cada dia se mostra mais eficiente e econômica”, diz a empresa em resposta ao FutureTransport, através de sua assessoria de imprensa.
“Atualmente, muito se fala na alternativa dos elétricos. Nós, da Mercedes-Benz do Brasil, já participamos de algumas iniciativas no País. Temos parceria com a Eletra e vários ônibus de nossa marca, cerca de 200 trólebus em São Paulo, já rodam com essa tecnologia”, declara a Mercedes-Benz em nota emitida ao FutureTransport. Na Europa, o Grupo Daimler, que detém a marca Mercedes-Benz, já testa essa tecnologia nos modelos Citaro. “A Mercedes-Benz do Brasil pode trazer tecnologias elétricas para o mercado nacional, na medida em que houver demanda por parte dos clientes. Uma vez o mercado brasileiro tendo infraestrutura necessária e preços competitivos, acreditamos na evolução dos veículos elétricos no País. Os ônibus elétricos vão chegar ao Brasil, sim, mas de forma gradual”, diz a empresa.
A montadora Agrale chegou a desenvolver um ônibus híbrido (diesel-elétrico), mas apenas como protótipo, não possui ônibus elétricos e nem híbridos circulando no país.
Já a Scania respondeu ao FutureTransport que acredita numa matriz mista de combustíveis alternativos e que tem na Europa veículos híbridos e elétricos, mas no Brasil, atualmente, tem apostado em outras alternativas, como ônibus movidos a etanol, operando em São Paulo, e na tecnologia biometano/GNV, com um modelo fazendo demonstrações pelo Brasil.
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