Após a pandemia de COVID-19, os sistemas de transporte público em todo o mundo entraram em crise. Os pedidos de permanência em casa relacionados à pandemia e a redução contínua nas viagens em transporte público deixou as principais cidades, como São Paulo, com déficits orçamentários devido à redução da receita com tarifas. As cidades, os operadores e as autoridades de transporte lidam com financiamento insuficiente e insistem em manter um modelo de negócio falido, onde o giro da catraca é mais importante do que o serviço prestado.
Se os órgãos públicos procurassem orientar as empresas a operar no interesse público, com estruturas regulatórias e de financiamento que alinhem os interesses públicos e privados, encontrariam maneiras mais criativas de pensar além do ônibus.
Os formuladores de políticas têm a oportunidade de aproveitar o valor dos serviços privados por meio de regulamentação cuidadosamente projetada, ou arriscar que o potencial de regulamentar os operadores privados deixe de existir. Se os formuladores de políticas aproveitarem a oportunidade, o setor de mobilidade pode vislumbrar uma mudança positiva – e mais rápida do que nunca – nos próximos cinco anos:
1- Sistema de transporte público como agência de mobilidade
Em um futuro factível e próximo, os sistemas de transporte público podem se tornar em agências de mobilidade e encontrariam maneiras criativas de projetar os deslocamentos de seus cidadãos. A mobilidade mais inteligente agora inclui ônibus, demanda/resposta (carona por aplicativo, micro trânsito, rotas flexíveis), bondes, balsas, patinetes, bicicletas, compartilhamento, carona compartilhada, táxis, empresas de rede de transporte e trens, como exemplos.
A diversificação do movimento de pessoas pode se tornar a norma das agências de transporte público a fim de criar oportunidades equitativas de conexão com educação, compras, emprego, saúde, recreação e outras oportunidades de qualidade de vida. Outra forma de mobilidade mais inteligente e mais inclusiva é a eliminação da tarifa àqueles que têm rendas mais baixas, possibilitando redirecionar suas receitas de tarifas para outras necessidades da vida.
2- Micromobilidade
Em um momento em que enfrentamos uma emergência climática global, muitas cidades estão intensificando seus esforços para adotar políticas que incentivem mais pessoas a abandonar os carros e recorrer a opções de transporte compartilhado, sustentável e livre de carbono, como e-bikes e e-scooters.
Para incentivar mais pessoas a adotar um estilo de vida sem carros, o investimento em infraestrutura de viagens ativas é essencial para abrir caminho para que o ciclismo se torne a escolha natural de transporte para viagens curtas – principalmente porque sabemos que a principal barreira em todos os grupos está relacionada a preocupações com a segurança do tráfego motorizado.
Já vimos autoridades locais e cidades nacionalmente introduzirem ciclovias segregadas, melhorias em cruzamentos e bairros de baixo tráfego que criam ruas mais saudáveis e seguras, onde todos os membros da sociedade podem se sentir capacitados para viajar de forma sustentável.
No entanto, também precisamos reconhecer que a infraestrutura por si só não acabará com nosso vício em carros. Com níveis sem precedentes de poluição tóxica do ar em nossas cidades, precisamos de mais políticas que procurem desencorajar o uso de carros particulares também para viagens curtas, como a introdução e expansão de Zonas de Ar Limpo. Poderemos ver mais dessas políticas nos próximos anos, e elas têm um potencial significativo para incentivar a adoção generalizada de serviços de micromobilidade.
Em última análise, os carros não têm direito inerente às nossas ruas. Todas as cidades e vilas podem incentivar a adoção da micromobilidade, colocando as pessoas e nosso planeta à frente dos carros.
3- Mais inteligência
Na última década, houve uma onda de inovação no espaço de um transporte inteligente – desde os avanços na tecnologia de automação de veículos até a implantação de novos modos de mobilidade sob demanda (como patinete elétrico, bicicleta compartilhada, carona compartilhada e micro trânsito). Há desenvolvimentos relacionados a infraestrutura inteligente, eletrificação de veículos, conectividade de transporte e tecnologias emergentes.
Olhando para o futuro, nossa capacidade de alavancar informações em tempo real e tecnologias transformacionais para melhorar o serviço de transporte e informar a tomada de decisões continuará a crescer nos próximos cinco anos,
4- Compartilhamento
Com o transporte público em mente, uma das tendências mais significativas para impactar a indústria da mobilidade nos próximos cinco anos é uma mudança no uso do automóvel pessoal para uma maior dependência de transporte compartilhado e público, especialmente onde existem redes de transporte confiáveis e frequentes. Com a vida retornando à normalidade, sem os impactos do COVID-19, os congestionamentos que sempre foram projetados em áreas de alto crescimento populacional se tornará realidade e o transporte público e integrado como agência de mobilidade começa a se desenhar como uma solução.
5- Eletromobilidade
Haverá uma mudança épica para a mobilidade eletrificada, como ofertas de ônibus elétricos e micromobilidade, incluindo um aumento no uso de bicicletas elétricas e uma mudança para caminhões leves e pesados elétricos. Esta grande transição energética tem implicações para a mobilidade de superfície, desde operações de serviço de trânsito, estacionamento e manutenção de infraestrutura de carregamento, uso de calçadas, projeto de ruas e atualizações e gerenciamento da rede de energia.
Nos próximos anos, a urgência de ficar abaixo do limite climático global de 1,5 o C e cumprir as metas do Acordo Climático de Paris está levando a um esforço maciço no setor de transporte para mudar do consumo de energia baseado em combustíveis fósseis para energia renovável.
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A pandemia de COVID-19 concentrou a atenção do mundo em como as comunidades expostas à poluição do ar são especialmente vulneráveis a doenças transmitidas pelo ar, especialmente aquelas que vivem ou trabalham perto de corredores com altas concentrações de exaustão tóxica. Os poluentes das emissões do escapamento são uma ameaça à saúde e ao bem-estar de todos, mas especialmente das comunidades marginalizadas que sofrem com a injustiça ambiental.
A eletrificação é uma grande oportunidade para adaptar nossos sistemas de mobilidade existentes para enfrentar a crise de saúde pública, equidade climática. No entanto, a tecnologia veicular por si só não nos levará abaixo da temida linha de perigo do limiar climático global. Medidas de mitigação também são necessárias.
Políticas de desenvolvimento compactas e de uso misto em torno de sistemas de transporte multimodais e limpos podem ser um modelo para comunidades resilientes ao clima prósperas, apoiando viagens com menos consumo de energia para as pessoas, bem como entrega de mercadorias mais eficiente. A mobilidade mais inteligente será a tendência nesta década.